Não foi por falta de oportunidade.
Venho de uma família que, nem de longe, poderia ser considerada abastada. Ainda assim, tive o privilégio de estudar em escolas particulares durante toda a infância e juventude — algo que não estava ao alcance nem mesmo de parentes próximos. Essa condição me abriu portas, me apresentou caminhos, me fez sonhar com possibilidades que iam muito além da realidade da maioria das pessoas ao meu redor.

Entre esses caminhos, surgiu a Magistratura.
Era uma opção sólida, respeitada, com estabilidade e status. Mas não prosperou. Com o tempo, entendi o motivo da minha resistência: medo. Não o medo de não passar em concurso, nem de enfrentar a rotina pesada da Justiça. Era um medo mais profundo, humano. Medo de errar. Medo de ser manipulada por armações bem feitas. Medo de condenar — acabar, destruir — a vida de alguém inocente ou de abalar a confiança na Justiça que é cega e “igual” para todos.

Li muitas reportagens ao longo dos anos.
Histórias de pessoas que foram presas injustamente, que comeram o pão que o “capiroto” amassou, e que só depois de anos conseguiram provar que não havia provas, que foram vítimas de manipulações, ou que simplesmente foram alvos de apurações mal feitas. Algumas foram libertadas. Algumas indenizadas. Mas nenhum valor no mundo compensa os anos de horror dentro de uma penitenciária — um lugar que, como sabemos por livros, documentários e filmes, está longe de ter qualquer traço de romantismo.

Essa reflexão voltou com força quando comecei a acompanhar os desdobramentos da Operação Calvário.
Aquela mesma. A que condenou um monte de gente, menos o homem apontado como chefe da quadrilha. Aquele cujas investigações do GAECO/MPPB (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) apontam através de provas como aúdios, vídeos, documentos que o tal cidadão seria o chefe da gangue toda que chega a ser chamada ainda hoje de Organização Criminosa (Orcrim). E o que mais me intrigou foi ver tantos magistrados se averbando suspeitos nos processos. Vez ou outra, penso neles. Imagino o que leva um juiz a se declarar impedido de julgar. O que será que dói no foro íntimo de cada um? Deve ser algo muito forte… E é aí que lembro por que nunca quis viver esse tipo de situação. Porque, no fundo, eu não queria carregar o peso de uma decisão que fosse injusta. E pior, ver a sociedade que deposita tanta confiança nos ditos magistrados ser inundada por dúvidas que não são sanadas… esclarecidas.

Sou uma pessoa humilde.
Minha vibe é outra. Nunca sonhei com grandes salários. Sempre quis ter o suficiente para pagar minhas contas, fazer uma ou outra viagem, viver com leveza. E se minha profissão me permite isso sem maiores dores de cabeça, então posso dizer: meta alcançada.

Sei lá… só pensando aqui.

Bora ver no que essa história vai dar… ou não.

(Imagem de Capa: Freepik)

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