Novo estudo propõe que hábito ancestral moldou nossa biologia e comportamento social
Um novo estudo liderado por pesquisadores da Faculdade de Dartmouth propõe que o hábito de macacos africanos de consumir frutas fermentadas no chão da floresta — agora chamado de “scrumping” — pode ter influenciado diretamente a evolução da tolerância humana ao álcool.
A predileção de macacos africanos por frutas maduras e fermentadas caiu no radar da ciência evolutiva. Pesquisadores da Faculdade de Dartmouth e da Universidade de St. Andrews cunharam o termo “scrumping” para descrever esse comportamento alimentar, que pode ter desempenhado um papel crucial na adaptação biológica dos humanos à metabolização do álcool.
Publicado na revista BioScience, o artigo liderado pelo professor Charles Hansen de Antropologia, Nathaniel Dominy, e pelo pesquisador Luke Fannin, destaca que o consumo regular de frutas fermentadas por primatas pode ter impulsionado alterações genéticas significativas. Um estudo de 2015 citado pelos autores identificou uma mutação em um aminoácido no último ancestral comum de humanos e macacos africanos, que aumentou em até 40 vezes a capacidade de metabolizar etanol.
Segundo Dominy, o comportamento de scrumping era frequentemente observado, mas nunca diferenciado de forma sistemática da alimentação comum de frutas. “A ausência de uma palavra para descrevê-lo disfarçou sua importância”, afirma. A nova classificação permite investigar com mais precisão a frequência e os impactos desse hábito entre grandes primatas como chimpanzés, gorilas e orangotangos.
A equipe cruzou dados de observação de alimentação com a altura em que os animais estavam e a localização natural das frutas. Se um macaco no nível do solo consumia uma fruta que normalmente cresce nas copas, isso era considerado scrumping. Os resultados mostraram que macacos africanos praticam esse comportamento regularmente, ao contrário dos orangotangos, cuja enzima para metabolizar etanol é menos eficiente.
Os pesquisadores propõem que essa adaptação metabólica permitiu aos macacos consumir frutas fermentadas com segurança, evitando a competição por frutas verdes nas árvores e reduzindo o risco de quedas — um fator que, segundo estudo de 2023 de Dominy e Fannin, influenciou a fisiologia humana.
Com chimpanzés ingerindo cerca de 4,5 kg de frutas por dia, a exposição crônica a baixos níveis de etanol pode ser significativa. O próximo passo, segundo Dominy, é medir os níveis de fermentação nas frutas no chão versus nas árvores para estimar melhor o consumo de álcool entre os primatas.
A professora Catherine Hobaiter, coautora do estudo, destaca que o scrumping pode ter implicações sociais. “Uma característica fundamental da nossa relação com o álcool é a tendência de bebermos juntos. O próximo passo é investigar como a alimentação compartilhada com frutas fermentadas pode influenciar as relações sociais em outros primatas.”
O termo “scrumping” tem raízes na palavra alemã medieval “schrimpen”, usada para descrever frutas murchas ou fermentadas. Na Inglaterra moderna, “scrumpy” refere-se a uma cidra turva com alto teor alcoólico. Os autores esperam que o termo se popularize, como ocorreu com “simbiose” e “meme”, cunhados para preencher lacunas conceituais na ciência.
Indicadores e impactos
- Chimpanzés consomem até 4,5 kg de frutas por dia, com potencial ingestão de etanol
- Mutação genética aumentou em 40x a capacidade de metabolizar álcool em ancestrais comuns
- Scrumping pode ter reduzido riscos de quedas e influenciado a fisiologia humana
- Comportamento alimentar pode ter moldado aspectos sociais da relação humana com o álcool
(Fontge: redação Click100 com informações da Faculdade de Dartmouth / Imagem: Freepik)