Gestor aparece em gravação recebendo R$ 400 mil e nega saber origem ou contexto da denúncia
O prefeito de Caaporã, Francisco Nazário de Oliveira (União Brasil), afirmou por meio de sua assessoria que “não tem conhecimento dos fatos”, mesmo após o vazamento de um vídeo em que aparece recebendo uma bolsa com dinheiro em espécie. A gravação, divulgada nesta semana, mostra o gestor em sua residência, às vésperas da campanha eleitoral de 2024, recebendo o que seria cerca de R$ 400 mil.
Contextualização e dados relevantes
Segundo apuração do blog Pleno Poder, o montante teria sido entregue por Sandro Trajano de Freitas, consultor financeiro e posteriormente nomeado secretário de Articulação Política da cidade, com salário de R$ 9 mil mensais. A entrega teria como contrapartida a indicação de uma empresa para o serviço de coleta de lixo, que repassaria parte dos valores recebidos ao doador — uma prática que, se confirmada, pode configurar crime eleitoral e improbidade administrativa.
No vídeo, Chico Nazário demonstra preocupação com a exposição da entrega:
“Essa minha casa ela não tem… como ela não tem muro na frente, eu fico com medo dos caras coloquem uma câmera aí na frente. E o cara sair com dinheiro?”
Após assumir o cargo, o prefeito rescindiu o contrato de coleta de lixo da gestão anterior, que tinha valor anual de R$ 1,6 milhão e vigência até março de 2025. Em seguida, contratou por dispensa de licitação a empresa HAC Serviços Ambientais LTDA – ME, com sede em Igarassu (PE), por R$ 270 mil mensais — totalizando R$ 3,2 milhões. Até o momento, foram pagos R$ 1,9 milhão à empresa, segundo dados do Sagres/TCE-PB.
Reações e posicionamentos
A assessoria do prefeito informou que ele só se pronunciará oficialmente após tomar ciência dos detalhes da denúncia. Já Sandro Trajano declarou que responderá apenas ao Ministério Público e à Justiça. O empresário Hilton Amorim Cunha Júnior, dono da HAC, negou qualquer vínculo com Trajano ou devolução de recursos:
“Participei do processo e ganhei a licitação. Não conheço nem mesmo o prefeito.”
Prestação de contas e limites legais
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha de Chico Nazário tinha limite de gastos de R$ 159,8 mil. Na prestação oficial, foram declaradas despesas de R$ 159,7 mil, majoritariamente com material gráfico. Entre os doadores registrados, constam apenas as direções nacionais do União Brasil e do PSDB, uma doação do próprio candidato e outra de R$ 12,30 feita por pessoa física.
Nazário foi eleito com 6.809 votos (49,67%), superando Alencar (PSB), que obteve 6.350 votos (46,32%). O prefeito já havia exercido dois mandatos como vereador e disputado a prefeitura em 2016, sem sucesso.
Implicações legais e próximos passos
O caso pode gerar desdobramentos judiciais, especialmente se confirmadas irregularidades na origem dos recursos e na contratação da empresa. A dispensa de licitação e a nomeação de envolvidos no suposto esquema levantam questionamentos sobre legalidade e transparência na gestão pública.
O Ministério Público deve ser acionado para apurar os fatos, e o Tribunal de Contas pode ampliar a fiscalização sobre os contratos vigentes. A repercussão do vídeo pode impactar a estabilidade política local e abrir caminho para investigações mais amplas. Clique aqui e confira a íntegra do vídeo. (Imagem de capa: arquivo Secom Caaporã)