Gilberto Gil e familiares acionam Justiça após fala considerada intolerante e discriminatória
A família da cantora Preta Gil ingressou com ação judicial contra o padre Danilo César, da Paróquia São José, em Campina Grande (PB), por danos morais. O processo, movido na Justiça do Rio de Janeiro, exige o pagamento de R$ 370 mil após declarações consideradas ofensivas à memória da artista e às religiões de matriz africana.
Durante uma homilia transmitida ao vivo pelo YouTube, o sacerdote ironizou a fé da família Gil, questionando em tom de deboche:
“Cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?”
A fala repercutiu nacionalmente e foi classificada como racismo religioso e intolerância por entidades e juristas. A Associação Cultural de Umbanda, Candomblé e Jurema Mãe Anália Maria de Souza registrou boletim de ocorrência e anunciou que levará o caso ao Ministério Público da Paraíba.
Notificação e fundamentos legais
Gilberto Gil e sua esposa Flora enviaram uma notificação extrajudicial à Diocese de Campina Grande e ao padre, exigindo retratação pública pelo mesmo canal em que a fala foi proferida. O documento destacou que o sacerdote cometeu crime de intolerância religiosa, previsto no artigo 20 da Lei nº 7.716/1989, com pena de dois a cinco anos de reclusão.
Além do impacto sobre a família, os advogados apontam o “potencial de eternização” do conteúdo ofensivo e seu efeito direto sobre comunidades religiosas afro-brasileiras. O prazo para resposta da Diocese expirou sem manifestação pública.
Reações públicas e jurídicas
A Defensoria Pública da Paraíba, por meio do Núcleo de Direitos Humanos, classificou as falas como discriminatórias e contrárias à Constituição. O defensor público Marcel Joffily afirmou:
“As declarações reforçam estigmas, alimentam a intolerância e afrontam valores essenciais à convivência democrática.”
Nas redes sociais, a chef Bela Gil reagiu com indignação:
“É cada absurdo que a gente precisa ouvir… seu padre desrespeitoso.”
O historiador Leandro Karnal também criticou o sermão:
“Quantos católicos ressuscitaram? Quantos papas saíram saltitando pela praça de São Pedro?”
Leia também: Notificação da família Gil alerta: ação judicial contra padre não está descartada
Leia também: Padre do interior da Paraíba usa morte de Preta Gil para atacar religiões afro
Investigação e silêncio institucional
Na época do acontecimento, dois boletins de ocorrência foram registrados e serão apurados pela Polícia Civil. A Diocese divulgou nota afirmando que o padre prestaria esclarecimentos por meio de sua assessoria jurídica, mas não mencionou retratação ou contato com os familiares.
O episódio reacende o debate sobre os limites da liberdade religiosa e o uso do púlpito como espaço público. A judicialização do caso pode estabelecer precedentes importantes sobre responsabilidade civil por discursos religiosos transmitidos em plataformas digitais. (Texto e fotomontagem de capa: redação Click100)