Há experiências na vida que não se apagam com o tempo. Pelo contrário, ganham ainda mais força, cor e significado à medida que os anos passam. É exatamente isso que sinto quando penso no privilégio de ter convivido com Severino Maroja — homem público, líder político, empreendedor nato, coração generoso, e, acima de tudo, um ser humano raro.
Comecei a trabalhar com ele aos 18 anos. Ainda estudante de Direito, cursando a turma da noite, iniciei minha trajetória no gabinete do então prefeito de Santa Rita. Era o início de uma jornada que me transformaria não apenas como profissional, mas, principalmente, como ser humano. Mais do que um chefe, Maroja foi um mestre silencioso, daqueles que ensinam mais com atitudes do que com palavras.
Conviver diariamente com Severino Maroja foi presenciar um estilo de fazer política calcado no bem comum. Santa Rita nunca foi, para ele, apenas uma cidade a ser administrada. Era sua casa, sua gente, sua missão de vida. A cada decisão tomada, a cada gesto simples no meio do expediente, ele deixava claro: governar é servir, e servir é amar.
Vi isso acontecer inúmeras vezes. Testemunhei reuniões em que, com uma habilidade impressionante, ele conseguia tomar decisões difíceis com serenidade e firmeza. Era como se tivesse uma bússola moral que apontava sempre para o melhor caminho, mesmo nos cenários mais nebulosos. A lucidez de suas escolhas, aliada a uma coragem serena, me fez compreender que liderar de verdade é unir competência e coração.
Maroja enxergava as pessoas com os olhos da alma. Para ele, ninguém era “mais” ou “menos”: todos tinham um lugar, um valor inegociável. Em seu trato, não havia hierarquia, não havia muros — havia pontes. Sua sensibilidade era tamanha que conseguia perceber, com poucos minutos de conversa, as dores, as alegrias e os sonhos do outro. E isso fazia dele não apenas um gestor admirado, mas um amigo eterno para muitos.
Era incapaz de uma grosseria. Sua riqueza verdadeira nunca foi seu patrimônio material — embora fosse um agricultor, empresário e industrial de sucesso — mas o seu patrimônio humano: os vínculos sinceros que construiu ao longo da vida, sobretudo com os filhos e filhas de Santa Rita. Ele fazia cada pessoa se sentir especial. E isso não é força de expressão. Quem conviveu com Maroja sabe: ele tinha o dom de fazer o outro se sentir visto, escutado, respeitado.
Em sua humildade, havia grandeza. Maroja tinha uma fé inabalável nas pessoas, acreditava que cada um poderia contribuir para um mundo melhor. E é curioso como essa convivência, que foi tão intensa e cotidiana, se revela cada vez mais preciosa agora, cinco anos após sua partida. À medida que o tempo passa, percebo com mais clareza a sorte que tive. A bênção que foi aprender com ele não só a gestão pública, mas a arte de viver bem, com ética, amor e simplicidade.
Num mundo em que tanta gente se perde em busca de status, poder e acúmulos materiais, ele nos lembrava — com sua vida — que o essencial é invisível aos olhos. Que o verdadeiro tesouro está nas relações humanas, no afeto cultivado, no respeito mútuo, na capacidade de ajudar o outro sem esperar nada em troca.
Hoje, carrego comigo não apenas as lembranças, mas os valores que aprendi. A ética nas relações, o compromisso com a população, a leveza no trato, a coragem nas decisões, e, sobretudo, o olhar humano e generoso. Santa Rita teve — e terá para sempre — em Severino Maroja uma referência. Eu tive — e tenho — o privilégio de tê-lo como uma das principais referências de vida.
A convivência com ele moldou quem sou, e isso é algo que nenhum tempo, nenhuma ausência, poderá apagar. A memória de Maroja não está apenas nas ruas, nas obras, nos feitos — mas no coração de cada pessoa que aprendeu, como eu, que viver vale a pena quando se vive com verdade, humildade e entrega.
Severino Maroja, muito mais do que o maior expoente político da história de Santa Rita, foi — e continuará sendo — um farol aceso para todos nós que acreditamos que a vida é, antes de tudo, um ato de amor e coragem.
Santa Rita, 02 de julho de 2025
Henrique Maroja