Presidente da Câmara enfrenta crise após pautar PEC polêmica e romper acordos com Senado e Planalto

Com pouco mais de seis meses à frente da presidência da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) enfrenta o que pode ser considerado – até agora! – o seu maior desgaste político desde que assumiu o cargo. A articulação da PEC da Blindagem e a tentativa de acelerar a tramitação da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro provocaram uma crise institucional que envolve o Senado, o governo federal e até sua própria base aliada.

A PEC da Blindagem, aprovada em primeiro turno com mais de 340 votos, devolve ao Congresso o poder de autorizar investigações contra parlamentares e amplia o foro privilegiado a presidentes de partidos. A proposta também estabelece votação secreta para prisões em flagrante, o que gerou críticas sobre falta de transparência.

Apesar da vitória numérica, Motta concentrou em si o desgaste político. O presidente Lula teria avisado pessoalmente que não apoiaria a medida, priorizando pautas econômicas como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Ainda assim, Motta atendeu ao apelo do Centrão e da direita, o que acentuou o racha com o Planalto.

Reações e embates

A aprovação da PEC provocou reação imediata do governo e de entidades jurídicas. A Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, conforme checou a redação Click100, classificou a proposta como “grave retrocesso institucional”. Ministros do STF também se manifestaram nos bastidores contra o texto.

Em resposta ao voto contrário da bancada do PT, o Centrão — grupo político ao qual Motta é ligado — ameaçou retaliar o governo apoiando a tramitação urgente da anistia aos golpistas de 8 de janeiro. A medida pode beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro.

“A PEC da Blindagem é um retrocesso. Deputados estão legislando em causa própria”, afirmou a ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais.

Desgaste nas redes e imagem pública

Segundo levantamento da consultoria Bites, Hugo Motta foi mencionado mais de 320 mil vezes no X (antigo Twitter), com 98% das menções em tom negativo. Internautas o chamaram de “marionete de Arthur Lira” e “covarde”, enquanto hashtags como #PECdaBandalheira e #ImpunidadeNãoPassará dominaram os trending topics.

A repercussão digital superou até a mobilização em torno da proposta de anistia, que registrou 364 mil publicações no mesmo período.

Ruptura com o Senado e crise entre Poderes

A decisão de pautar a urgência da anistia sem consultar o Senado foi vista como um “movimento surpresa” por aliados do presidente da Casa Alta, Davi Alcolumbre. Senadores acusam Motta de romper acordos e afirmam que o texto aprovado pela Câmara tem “exageros” e não deve prosperar no Senado.

“O remédio acabou sendo excessivo. Pode inviabilizar investigações sobre crimes comuns”, disse o senador Sérgio Moro (União-PR).

Tentativas de reação

Diante da crise, Motta tenta virar a pauta da Câmara com uma “agenda positiva”. Convidou Arthur Lira para liderar a articulação da proposta que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda, buscando reconectar-se com líderes partidários e reduzir tensões internas.

Implicações políticas

O episódio revela um presidente da Câmara ainda em busca de consolidar sua liderança. A dependência de Lira, os atritos com o Senado e a rejeição popular fragilizam sua imagem como articulador político. A crise pode comprometer votações futuras e abrir espaço para disputas internas na Casa. (Imagem de Capa: José Cruz | Agência Brasil)

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