A palavra do nosso tempo não é mais “sim”, nem “não”. É depois. Ela escorre da boca como se fosse resposta universal para tudo que exija esforço, concentração ou uma dose mínima de disciplina. Ler um livro? Depois. Fazer um curso? Depois. Escrever aquele projeto, estudar aquela matéria, organizar as finanças, começar a terapia, aprender a cozinhar, entender como o mundo funciona? Depois. E o “depois” de hoje, sabemos, é só o nome educado do nunca. Vivemos numa cultura molenga, amortecida, onde o mínimo já parece muito, e qualquer coisa fora da bolha do prazer instantâneo é descartada com desinteresse. Há uma indiferença escancarada diante do que é importante, uma apatia disfarçada de leveza. “Ah, deixa fluir”, dizem. Mas o que flui mesmo é o tempo – e ele não volta. O problema não é a falta de talento, nem de oportunidade. É a falta de tesão em crescer. A geração atual – tão criativa, tão conectada, tão cheia de potencial – parece ter se tornado refém de uma preguiça existencial. Não a preguiça gostosa de um domingo à tarde, mas aquela que paralisa. Que neutraliza. Que embrulha qualquer possibilidade de conquista dentro do papel de presente do depois. Disciplina virou palavrão. Dedicação, sinônimo de careta. Concentração, uma ofensa à dopamina. E qualquer convite à melhoria pessoal soa como um esforço desnecessário diante da promessa colorida de um vídeo de 15 segundos que dança, ri e “entretém”. Como competir com isso? É como se o mundo real – aquele onde o sucesso demora, onde a aprendizagem exige tempo, onde o crescimento dói – tivesse perdido o charme. E em seu lugar, cresceu um mundo artificial onde tudo é rápido, fácil, bonitinho e sem consequência. Um lugar onde o fracasso não existe, onde não se sua, não se insiste, não se aprofunda. E ainda assim, todos seguem cansados. Cansados sem ter feito. Frustrados sem ter tentado. Perdidos sem terem saído do lugar. Porque mesmo que o corpo esteja imóvel, a mente cobra. Cobra o tempo desperdiçado, cobra a promessa não cumprida, cobra a vida não vivida com mais coragem. A verdade é que o “depois” está matando a potência de uma geração brilhante. Gente boa, cheia de ideias, de sonhos – mas que espera o algoritmo decidir a próxima ação. Espera um sinal do céu ou um áudio motivacional pra começar qualquer coisa. Espera “a vontade bater”. Como se a vontade batesse à porta, fizesse check-in e dissesse: “Pronto, agora vai!”. Mas não vai. Nunca vai. Porque crescer dá trabalho. Porque ninguém aprende nada importante sem ralar. E porque tudo o que vale a pena exige começar antes, não depois. A geração do depois ainda pode virar a geração do agora. Mas vai ter que brigar com o próprio comodismo, com a sedução do sofá, com o vício da distração e com essa ideia insidiosa de que viver é só consumir, e não construir. O tempo está passando. O mundo continua girando. E a pergunta fica: você vai deixar pra depois mais uma vez? João Pessoa, 05 de maio de 2025 (Imagem de 8photo no Freepik)
O verdadeiro jacaré dos anos 90 e início de 2000
Nos anos 90 e início dos 2000, a Praia do Jacaré não era apenas palco do mais famoso pôr do sol da Paraíba – era o refúgio secreto da juventude. A partir de quinta-feira à noite, a vila ribeirinha se transformava num roteiro mágico. O calor do fim de tarde dava lugar a uma brisa salgada e misteriosa, anunciando uma sequência de festas que marcariam gerações. Cada dia tinha nome, clima e música próprios; juntos, formavam um calendário afetivo que só fazia sentido completo na memória de quem viveu aquela época. Às quintas-feiras, entrávamos na atmosfera do Caleidoscópio. Partíamos de João Pessoa ao anoitecer, cruzando uma estrada de barro estreita onde nada se via além dos faróis. Com cada quilômetro, crescia a sensação de estarmos a caminho de algo proibido: o píer de madeira ficava longe, quase secreto, tornando tudo ainda mais emocionante. Ao chegar ao nosso “ponto de encontro”, éramos recebidos por lanternas tremeluzindo entre coqueiros e pelo grave profundo de um som de alta qualidade. O Caleidoscópio era um esconderijo adulto: luzes coloridas dançavam na noite enquanto batidas eletrônicas invadiam a mata, fazendo-nos acreditar que havíamos entrado noutro universo. Quando a sexta-feira chegava, trocávamos o clima de segredo pelo ar festivo da Aldeia do Rio. Esse píer, mais próximo e iluminado pelo luar, era amplo o suficiente para reunir tribos diferentes e várias gerações. Lá, patricinhas desfilavam com saltos altos, outras tribos eram mais pé no chão com suas sandálias havaianas, roqueiros pulavam de calça jeans rasgada, nós que éramos mais praianos de bermuda e tênis, e até turistas de férias descobriam aquela festa antes mesmo das hashtags existirem. A trilha sonora abria com bandas de pop e rock no começo da noite, e depois DJs locais mantinham a animação; tudo isso sob o céu aberto, com o luar refletido no rio. A Aldeia do Rio encarnava o espírito do “sextou” muito antes da palavra existir – uma euforia coletiva em que cada brinde anunciava a glória do fim de semana. No sábado, o Solar das Águas abria suas portas cedo, já ao entardecer, no primeiro píer de fácil acesso. Ali, o som era de pagode, samba e forró, tocando sem interrupção sob o próprio céu. Não havia paredes, apenas o firme brilho das estrelas para nos cobrir enquanto a brisa do mangue refrescava nossos corpos. Jovens de camisas floridas rodopiavam na pista improvisada, carregando copos de cerveja gelada, caipirinhas, uisque e a tradicional cachaça bebida em viradas de copo americano dividido entre amigos. O Solar das Águas tinha o calor de uma grande roda de amigos: reunia a juventude dourada de João Pessoa e os turistas curiosos, compartilhando sorrisos sob o luar até altas horas. Mas o ápice do fim de semana sempre acontecia no domingo, com o lendário Rock no Rio. Durante o dia, a praia fervilhava de jovens nos lendários bares Peixe elétrico, pote de barro, convívio mar num ritual sagrado do domingo na capital paraibana daquela época, á espera que viria à noite. Da praia partíamos para a casa de um amigo (sempre havia uma casa disponível) para dar o pontapé inicial daquela que era a melhor e mais esperada balada da semana toda. Entre risos e planos para a semana que viria, sabíamos que aquele era nosso ritual de despedida do fim de semana. Quando o sol começava a cair, partíamos em massa para o píer do Rock. No cais de madeira, a cena era de cinema: a juventude mais bonita e livre da capital, de mãos dadas com turistas de outros cantos. As bandas locais – Os Impossíveis, Área 51, Hangar 18 e várias outras – assumiam o palco com riffs rasgados e letras sobre estrada, amor e rebeldia. Cantávamos juntos, sentindo uma onda de liberdade coletiva, como se fôssemos donos do mundo, antes mesmo de o resto do planeta notar que Jacaré tinha seu próprio som. Hoje, porém, há outro retrato na beira do rio. As quatro grandes baladas deram lugar a quiosques de artesanato, bares de frutos do mar e feirinhas gastronômicas. As pessoas vão ao Jacaré para o famoso pôr do sol ao som do saxofone de Jurandy, não mais para dançar até de madrugada. Os turistas chegam em passeios de catamarã, tirando fotos e comprando lembranças, completamente alheios ao festejo rebelde de antes. A ginga das pulseiras de forró e o som das guitarras foram substituídos pelo murmúrio do público em mesas de bambu e pelo vai-e-vem dos barcos sobre o luar. Guardamos a saudade das madrugadas sem fim, da areia úmida sob os pés e dos abraços que selavam cada despedida. Sabemos que a Jacaré de hoje é outra, e que cada geração vive sua própria viagem. Mas algo daquele tempo permanece imutável dentro de nós: a certeza de ter feito parte de algo único, uma história secreta gravada na memória. E é com esse sabor agridoce na alma – meio salgado como a brisa do mar, meio doce como a última música da noite – que seguimos adiante, orgulhosos das noites lendárias que um dia foram nossas. João Pessoa, 12 de maio de 2025 (Imagem: Freepik)
O que será de uma Igreja Católica sem um papa que fazia a ‘lição de casa’ pregando o bem sem olhar a quem?
A morte do papa Francisco, na segunda-feira (21/04), pegou um planeta inteiro de surpresa tendo em vista que ele parecia estar saindo do quadro mais crítico de seu estado de saúde. Tanto que, apesar de não celebrar a tradicional missa de Páscoa preparou, pessoalmente, a homilia pascal que foi, de modo inédito, lida, a pedido do Pontífice, pelo cardeal Angelo Comastri. Francisco era isso… um inovador. Um líder católico que rejeitou o luxo disponível para os grandes líderes do catolicismo e arregaçou as mangas para tornar a Igreja Católica mais inclusiva apesar da resistência dura e difícil dos mais conservadores que fazem parte do alto clero católico. Quando Francisco foi elevado à condição de papa, a Igreja Católica vivia um período de séria crise de governança e credibilidade que culminou com a renúncia do então papa Bento XVI, a primeira em 600 anos da era moderna, a segunda desde a fundação do trono de São Pedro e que cuja justificativa “oficial” foi a falta de vigor, “seja do corpo, seja do ânimo”, para lidar com os problemas da instituição. O papa, cujo nome real era Jorge Mario Bergoglio, era um argentino que mesmo ocupando o mais alto posto da Igreja Católica abriu mão de morar no luxo do chamado ‘Palácio Apostólico’ e optou por residir na casa de hóspedes, desde o primeiro dia do seu papado. Francisco era diferente exatamente por dar o exemplo real, seguindo e vivendo na pele a humildade tão pregada pela igreja que ele representava, inclusive, proporcionando um diálogo de respeito e cordialidade inter-religiões tentando unir e pacificar os humanos. A postura de Bergoglio proporcionou à Igreja Católica mais de uma década de reencontro com o seu público e a simpatia de outras crenças. Portanto, a sua morte abre espaço para uma expectativa quanto ao futuro da Instituição que periga retroceder anos caso o novo escolhido seja um alguém apegado à tradições separatistas ou aos apelos rígidos do Velho Testamento. Francisco se mostrou um grande navegador que soube girar, com a diplomacia certa, o leme do navio católico em direção à águas menos turbulentas atraindo, inclusive, novos simpatizantes ao catolicismo. Resta saber se a fumaça branca representará a continuidade do bom legado deixado pelo papa Francisco… ou não. Fica no ar, portanto, a dúvida que intitulou este artigo: “O que será de uma Igreja Católica sem um papa que fazia a ‘lição de casa’ pregando o bem sem olhar a quem?“ O fato é que… até eu… senti muito pela passagem do bom pastor e, por tudo que fez, tenho certeza, ele está sendo muitíssimo bem acolhido pela espiritualidade amiga em um outro plano de muita luz. Assim seja!
Depois da Páscoa… uma das datas mais importantes do calendário mundial: o dia das mães
Estamos chegando numa data lindíssima… o Dia das Mães é uma data especial para homenagear as mulheres que nos amam e cuidam de nós incondicionalmente. E nada melhor para presenteá-las do que com um gesto de amor e beleza. Concorda? As semijoias são uma ótima opção para presentear mãe, avó ou outra mulher especial em sua vida. Com designs variados e materiais de qualidade, as semijoias podem ser uma forma de demonstrar carinho e apreço. Seja um colar delicado, um anel elegante ou um par de brincos estiloso; as semijoias podem adicionar um toque de glamour e sofisticação ao look de sua mãe. Além disso, as semijoias são uma opção acessível e versátil, permitindo que você escolha o presente perfeito para sua mãe, independentemente do seu estilo ou preferência. Para facilitar a sua vida e encurtar o trabalho de encontrar um presente especial para sua mãe, a dica que dou é a @fascinarisemijoias. Uma empresa, nordestina, consolidada e que envia produtos expostos no catálogo para todo o Brasil. E, para os leitores do portal Click100.com.br, um desconto de 15% na primeira compra é certo e garantido! Corre, aproveita e arrasa na escolha para a sua mãe! (Imagem de pikisuperstar no Freepik)
“Das grandes economias, o Brasil foi a mais mal gerida do mundo no ano passado”, diz economista-chefe do Banco Mundial
O economista indiano Indermit Gill disse com todas as letras, durante uma entrevista no início do mês de março de 2025, que “das grandes economias, o Brasil foi a mais mal gerida do mundo no ano passado”. Chamo atenção para o fato de Gill não ser um mero curioso sobre o assunto, mas, sim, “o” economista-chefe do Banco Mundial. Segundo a análise de Gill, o Brasil está gastando mais do que tem, se endividando ainda mais e vivendo a realidade de ter um PIB (Produto Interno Bruto) que avançou 3%, mas, ainda assim, possuir um déficit que já supera os 7%. Coisa nada boa. Esses números, segundo o especialista, derrubam o valor do real fazendo com que, em dólares, o PIB per capita do país fique menor. Por mais que a paixão de alguns por políticos e ideologias resista à uma percepção clara da realidade, o fato é que a economia brasileira, como um todo, está cada dia mais longe de onde deveria estar em comparação aos países de renda alta. Dito isto, queridos (as), está na hora de perceber que não basta a manutenção de uma “paixão” ou defesa cega por esse ou aquele político. Não basta dançar ciranda numa praça ou rezar para um pneu. É preciso muito mais. É preciso abrir os olhos para o macro e perceber o que vem sendo feito com a economia do país. E nem adianta “lulista” me chamar de “bolsonarista” e “bolsonarista” me chamar de “lulista” porque, assim como você, eu sou parte da população que fica, literalmente, no meio de devoções injustificáveis, sofrendo as consequências de “briguinhas” que passam à milhas e milhas de distância da razoabilidade. Portanto, caro (o) leitor (a), em vez de apenas ouvir o que o político está dizendo – através de um discurso pensado, ensaiado e estratégico! – está mais que na hora de aprender a ouvir especialistas respeitados, acompanhar números da transparência pública, ver os efeitos da economia no próprio bolso e deixar de viver de ideologia, sorrisos e abraços, pois – pasmem! – são três termos que não põem comida na mesa. Essa realidade da economia brasileira é cruel, principalmente, para quem é da classe média, setor cada vez mais com menor capilaridade porque carrega nas costas, há décadas, a responsabilidade de “minimizar” os desequilíbrios econômicos que afetam o país. Sim, porque, dos ricos ninguém tira, dos pobres não há quase mais nada para tirar… realidades que “naturalmente” jogam a cota de maior sacrifício para quem? Isso mesmo… para a classe média que é “empurrada”, cada vez mais, para muito perto daquele precipício que a faz olhar, de frente, para uma condição financeira menos favorável. A solução para isso é votar certo. Iniciativa que, ao contrário do que muitos dizem, não é difícil. Só é trabalhosa… porque para “conhecer” um pouco mais os políticos que “nos representam” a gente tem que acompanhar a vida parlamentar de cada um. Ler proposituras. Conferir frequência. Ouvir/ler discurso feito por cada. Enfim, dá trabalho, como disse. Mas é um conjunto de ações necessárias. Muito necessárias. Vitalmente necessárias. Enfim, acho que deu para começar a compreender de vez que, ou a gente começa a se envolver do jeito que pode para ajudar ao nosso país, que é a nossa casa… ou a situação pode ficar cada vez mais complicada… na nossa cara. Quer a fonte da entrevista do indiano? Então, pega aí, clicando aqui.
Se vivo fosse, Ronaldo Cunha Lima completaria 89 anos nesta terça-feira
Hoje é dia 18 de março. Acordo com a informação de que se vivo fosse, Ronaldo Cunha Lima completaria 89 anos. E ao ler o texto que Cássio, o filho, escreveu para o pai, me fez pensar um bocado. Tanto que nem consigo explanar o quanto. Me fez pensar porque, primeiro, sou muito família. Para mim esse é um laço inquebrantável. Inegociável. E, pelo amor de Deus… estou falando de família… a família raiz… não de parente. Segundo, porque o mundo pode falar quaisquer coisas… mas não consegue duvidar do amor de Cássio por Ronaldo. Sentimento que, tenho certeza, alimentou muito da poesia “ronaldiana” e ainda é força motriz para Cássio. Nesse texto especificamente não faço, em momento algum, referência ao pai e filho políticos e, sim, apenas e tão somente, ao filho e ao pai, nessa ordem, que permite um amor vísivel e recíproco daqueles que tanto deve inspirar. “Quem tem boca fala o que quer“, já diz um antigo ditado popular mas, quem tem um mínimo de bondade, não tem coragem de duvidar do laço amoroso que uniu e nunca mais separa um Cássio de um Ronaldo… um Ronaldo de um Cássio… um filho de um pai. Logo abaixo segue um texto escrito por Cássio pela data de hoje. “Hoje, meu pai completaria 89 anos. A saudade continua serena, a gratidão e o orgulho que sinto por ser filho de Ronaldo Cunha Lima são intensos. Não tive apenas um pai amoroso e zeloso; tive, ao longo da vida, um amigo, conselheiro e orientador. Como aprendi – e ainda aprendo – com ele! Nele me inspiro e balizo meus gestos e atitudes. Poeta de alma pura e coração generoso, segue nos ensinando através de sua obra, que é eterna. Foi um advogado brilhante e um político que dedicou sua vida ao povo e à justiça. Seu legado permanece vivo em cada palavra que nos deixou, em cada gesto que nos dedicou e na memória daqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo de perto. Que sua poesia continue inspirando as novas e futuras gerações, e que sua história jamais seja esquecida. Parabéns, meu pai! Sua luz nunca se apagará, Poeta! Cássio Cunha Lima” Confira vídeo: Confira imagens:
PL de Daniella poderia evitar constrangimento como o vivido por Ingrid Guimarães durante viagem
A situação extremamente desagradável vivida pela atriz Ingrid Guimarães em um voo da American Airlines, de Nova YorK para o Rio de Janeiro, passa por várias camadas ao meu olhar e não apenas no fato de ter sido escolhida para um “downgrade”, procedimento temido por todo mundo que costuma viajar de avião e vai entre as famosas primeira classe e econômica e que consiste na troca -não apenas de assento!-, mas de categoria inferior ao da passagem que você comprou. Sim, o procedimento existe, não é novidade nenhuma e funciona meio que como um rolo compressor onde quem paga mais caro sempre vai ter todas as vantagens sobre quem paga mais barato por uma viagem de avião. Sempre. Bom, falei lá em cima que o caso da Ingrid passa por várias camadas aos meus olhos. Vou explicar os motivos. Vamos lá, então. Primeiro, enxergo a violência com a qual ela foi tratada no voo. Bixoooo… eu morreria ao ver todos os passageiros serem induzidos a se voltarem contra mim. Segundo, enxergo a tristeza e o incômodo nauseante provocados em uma pessoa que recebe um ultimato violento de que teria que ser rebaixada “por bem ou por mal“, jogo de palavras este que me “fere” e incomoda muito porque deixa clara a forma desrespeitosa como a Ingrid foi tratada pela empresa e, pior, na frente de todo mundo. O fato pesa muito quando chega nas agressões verbais e na forma de persuasão insistente que os funcionários da American Airlines dispensaram à nossa querida. No título desse artigo sugiro que o Projeto de Lei nº 719/2025, proposto pela senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB), poderia ter evitado o constrangimento da Ingrid. E sim, acho que teria, sim. O PL que tramita no Senado Federal, promete colaborar com mais segurança às mulheres que viajam sozinhas. Aí algum bonito (a) que está lendo pode dizer: “Ahh… mas, a Ingrid estava com a irmã e o cunhado”. E eu vou dizer: “Mas, ela estava numa situação em que não conseguiu viajar em trio nas poltronas com os familiares. Ou seja, estava numa condição de viajante solo como observa a proposta do Projeto que, em sendo aprovado, vai valer para viagens interestaduais e internacionais”. Na época de em vivemos toda ajuda para combate à violência contra a mulher é válida até porque, em casos como este, vemos que a aplicabilidade da Lei, quando aprovada, poderia ter ajudado a Ingrid como suporte para que ela não mudasse de poltrona porque ela teria, por força legal e sob pretexto de segurança, escolhido aquele dito assento. Esse Projeto me veio à cabeça porque a alegação de Ingrid estava na condição de “mulher viajando sozinha” teria sido utilizada como justificativa pela abordagem a ela dedicada. Nesse episódio, para mim, a “cereja do bolo trash” que a American Airlines ofereceu a Ingrid foi saber que o único funcionário brasileiro optou por ser grosseiro, num português que ela entenderia muito bem, e dito: “Querida, melhor você sair, [porque vai ter que sair] por bem ou por mal”. Por esse diálogo vê-se que se trata de uma empresa “desumana” de uma ponta a outra. E olha… digo mais… não é tão raro alguém que já viajou pela American Airlines ter uma história ruim para contar. Pasme… eu também tenho. A Ingrid, pelo menos, vai poder ver o constrangimento minimizado, como disse o funcionário brasileiro “por bem ou por mal“. Pelo jeito foi por “mal”, ou seja, pela pressão internacional dos consumidores do Brasil que são, inegavelmente, os mais barulhentos na internet que esse planeta inteiro já viu. E esse fato, desculpem, me faz sentir muito bem.
O campinho dos Expedicionários
Se alguém me pedisse para resumir a minha infância em uma palavra, eu diria: “mistura”. Porque não há nada que represente mais aqueles anos dourados da década de 80 e 90, no Bairro dos Expedicionários, em João Pessoa, do que a fusão de vidas, histórias e perspectivas que se encontravam ali, no campinho de areia, onde o futebol não era apenas um jogo, mas a arte de viver. Era um campo sem cercado, sem banco de reserva e sem glamour. Era, essencialmente, a quintessência da rua, do improviso. O cheiro da terra misturado ao suor, o som das peladas ecoando por todo o bairro, a bola suja rolando como se o próprio destino jogasse entre nós, crianças e jovens. O futebol, porém, não era só futebol ali, era o palco onde as distâncias sociais se diluíam. Quem ia ao campinho encontrava uma verdadeira Torre de Babel de vidas. Havia os meninos de 8, 9, 10 anos, ainda com os cabelos curtos e rostos inocentes, e havia também os garotos mais velhos, de 16 a 19 anos, com a idade de quem já experimentava os primeiros rastros da juventude: os sonhos, as brigas, as paixões e, às vezes, os pesadelos. Alguns com tênis surrados e outros com os melhores modelos que a vida lhes podia dar, mas a grande maioria descalço — filhos de delegados, professores universitários, advogados, empresários; enquanto ao lado, os filhos de operários, vendedores, os meninos de pais mais humildes, sem tanto luxo, mas com uma força de vontade inabalável. E ali, naquele pequeno pedaço de terra batida, ninguém se importava com o sobrenome ou o endereço. A bola era a única coisa que falava mais alto. Em um momento, você estava driblando o “filhinho de papai”, e no outro, se defendendo de um chute forte de um “moleque da rua”. Não importava a origem ou o status, a paixão pelo futebol era a mesma. O campinho era uma escola viva de empatia e resiliência. E era nele também que as diferenças sociais se tornavam quase invisíveis. Mesmo com a separação que o mundo real tentava criar entre as classes, ali, no meio da poeira e das risadas, tudo se diluía. Claro, tudo ali também tinha sua dose de dureza. A infância não era exatamente “protegida” como as de hoje. Lembro que os amigos de infância não eram raros a atravessar a linha tênue entre o legal e o ilegal. O campinho não era só palco de futebol, mas também de cenas que os meninos de 10 anos não deveriam ver: amigos assassinados, outros que sumiam sem explicação, uns levados pela polícia, outros pela droga, e muitos que nunca mais apareceriam, já no final da adolescência, perdidos para as sombras do crime. Era a vida sendo forjada entre quedas e novas chances. E nós, com nossas energias e sonhos inocentes, nos acostumávamos com essa realidade bruta, quase sem saber o quanto nos preparava para um futuro imune ao medo, ou ao menos mais forte do que as gerações posteriores poderiam imaginar. Entre os momentos de futebol, de arriscar um gol, de ganhar e perder, havia também a busca por algo mais simples: a água da torneira enferrujada dentro da casa abandonada em frente ao campinho, ou as frutas das árvores que nos faziam sentir como pequenos ladrões em busca de doçura. Carambolas, mangas, pitombas, goiabas, jambo, saputi e araçá, frutas que nos alimentavam não apenas o corpo, mas a alma. Quem passasse por ali jamais poderia imaginar que, por trás daquelas risadas, existiam muitas lições de sobrevivência. E a morte, tão presente naquele tempo, nos ensinava a encarar a vida de outra forma. Não éramos preparados para nada, mas aprendíamos a sobreviver de uma maneira que os tempos modernos, com suas redes sociais e medos inventados, talvez não permitam mais. Hoje em dia, o que vejo é uma sociedade que tenta proteger demais seus filhos, mas que ao mesmo tempo, perdeu o sentido de que a vida, por mais dura que seja, também é feita de tropeços, de amizades improváveis e de momentos simples que valem mais do que qualquer escudo. E, sim, aquele campinho de areia foi um grande laboratório da vida, onde nos misturamos sem medo, sem distinções, onde vimos de tudo um pouco, e até o mais distante dos mundos se encontrava. Não havia a rigidez de hoje, onde a vida parece muito mais controlada, monitorada e pré-determinada. Naquele pedaço de terra batida, éramos todos iguais. Éramos só crianças e jovens em busca de uma felicidade, muitas vezes fugaz, mas intensamente verdadeira. A mistura de gerações, de classes, de esperanças e de frustrações, fez de nós o que somos hoje: gente que, na falta de um escudo protetor, encontrou na resiliência, na união e na paixão pelo jogo o maior de todos os aprendizados. E assim, enquanto a bola rolava e as tardes se esticavam para a noite, nos tornávamos mais do que jogadores. Tornávamo-nos, sem saber, parte de um grande time chamado “vida”. (Image by Sasin Tipchai from Pixabay)
A Influência da Tecnologia no Direito Penal: Desafios e Oportunidades
A revolução digital impacta todas as áreas do conhecimento, e o Direito Penal não é exceção. Com o avanço de ferramentas tecnológicas como inteligência artificial, big data e reconhecimento facial, a maneira como crimes são investigados, processados e julgados está passando por transformações significativas. No entanto, junto com as oportunidades, surgem desafios jurídicos e éticos que exigem reflexão. O Uso da Inteligência Artificial na Investigação CriminalA inteligência artificial (IA) tem sido utilizada para análise preditiva de crimes, identificação de padrões e até mesmo para determinar o grau de periculosidade de um suspeito. Nos Estados Unidos, por exemplo, softwares como o COMPAS avaliam a probabilidade de reincidência criminal, auxiliando decisões judiciais. No Brasil, a Polícia Federal já experimenta soluções tecnológicas para cruzamento de dados e reconhecimento de suspeitos. Apesar dos avanços, o uso de IA no Direito Penal levanta preocupações, especialmente quanto à imparcialidade dos algoritmos e à possibilidade de erros que podem comprometer a presunção de inocência. Big Data e o Perfilamento CriminalA análise de grandes volumes de dados tem ajudado órgãos de segurança a mapear atividades criminosas, prever padrões e otimizar a alocação de recursos. No entanto, a prática do “perfilamento criminal” levanta questões éticas: até que ponto as informações coletadas garantem um julgamento justo? O risco de violação de privacidade e de utilização inadequada de dados sensíveis coloca em xeque a aplicação dessa tecnologia no Direito Penal. No Brasil, o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) já estabelecem diretrizes sobre a coleta e uso de dados, mas a regulação específica para o uso dessas tecnologias na esfera penal ainda é um campo em construção. Reconhecimento Facial e Controvérsias JurídicasA tecnologia de reconhecimento facial tem sido amplamente adotada para identificar suspeitos em locais públicos e auxiliar investigações. Em São Paulo, câmeras de vigilância com essa funcionalidade já operam em parceria com a segurança pública. No entanto, erros no reconhecimento facial podem levar a prisões indevidas, como já ocorreu em diversos casos pelo mundo. O desafio jurídico é equilibrar a eficiência tecnológica com o respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos. A confiabilidade dos sistemas de reconhecimento facial precisa ser aprimorada para evitar falhas que possam prejudicar inocentes. Uso do Reconhecimento Facial no Carnaval para Captura de ForagidosCom a chegada do Carnaval, grandes eventos e aglomerações se tornam oportunidades para a aplicação do reconhecimento facial na segurança pública. Em estados como Rio de Janeiro e Bahia, as autoridades já utilizam essa tecnologia para identificar e capturar foragidos da justiça em meio às festividades. Durante o Carnaval de anos anteriores, essa ferramenta foi responsável pela prisão de criminosos procurados e pela identificação de indivíduos com mandados em aberto. No entanto, a aplicação massiva do reconhecimento facial levanta questões sobre privacidade e possíveis erros na identificação, que podem resultar em constrangimentos e injustiças. A discussão sobre a necessidade de uma regulamentação mais clara e de mecanismos que garantam a precisão das identificações segue em pauta. O Carnaval, como um evento de grande porte, serve como um verdadeiro teste para a eficácia e os desafios dessa tecnologia no combate ao crime. Casos Recentes e a Discussão GlobalEm países como o Reino Unido e os EUA, decisões judiciais já impuseram restrições ao uso do reconhecimento facial em investigações criminais. No Brasil, o debate ainda está em fase inicial, mas cresce a pressão por maior regulamentação e transparência no uso dessas tecnologias. Além disso, a preocupação com o uso de deepfake para falsificação de provas e manipulação de evidências levanta novos desafios para o Direito Penal. Como distinguir entre provas autênticas e fabricadas digitalmente? Como evitar que criminosos utilizem essas ferramentas para burlar o sistema de justiça? O Futuro da Tecnologia no Direito PenalO avanço tecnológico no Direito Penal é inevitável, mas deve ser acompanhado de regulamentação eficaz e de uma abordagem ética. O equilíbrio entre inovação e proteção dos direitos fundamentais será essencial para garantir que essas ferramentas sirvam à justiça e não se tornem instrumentos de arbitrariedade. Para os profissionais do Direito, a atualização constante sobre novas tecnologias e seus impactos jurídicos se torna indispensável. A revolução digital já está em curso, e cabe ao Direito garantir que ela aconteça de maneira justa e responsável. (Imagem de herbinisaac por Pixabay)
O caso de Buriticupu: por mais Zoneamentos Ecológicos-Econômicos (ZEE)
Provavelmente, muitos já estão acompanhando a situação em Buriticupu, no Maranhão. Existem muitas voçorocas que têm se espalhado por uma área significativa deste município. Este caso nos chama a atenção para o fato de que um desastre dessa magnitude acontece devido a vários fatores. O primeiro deles diz respeito ao contínuo desmatamento que ocorreu nos últimos anos. Em uma linguagem mais compreensível para o público, podemos defini-las como grandes rachaduras no solo, resultantes da erosão provocada pelas precipitações. Neste cenário, a remoção da vegetação, frequentemente, torna-se a principal origem deste tipo de problema. Em Buriticupu, prevê-se uma diminuição significativa na biomassa nos últimos anos. Além disso, outros elementos, como a natureza arenosa dos solos e a insuficiência da infraestrutura de drenagem e saneamento básico, se destacam como outros elementos que contribuem para esse desastre. No entanto, é importante destacar que o caso de Buriticupu, juntamente com outros espalhados pelo Brasil, ilustra problemas resultantes da ausência de planejamento urbano. Sim! Da falta de planejamento, uma vez que não considerar fatores naturais na expansão das cidades constitui uma falta grande e um total desconhecimento acerca do que vem a ser o mínimo dos requisitos necessários para um planejamento e ordenamento do território. Na ciência geográfica, este instrumento de orientação se desenvolve através do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), que, nos últimos anos, vem se demonstrando como uma ferramenta eficaz para o planejamento urbano. Esse tipo de instrumento leva em consideração as características naturais e sociais de uma localidade, e, através da cartografia, designa diferentes usos indicados para uma área, com base nos diferentes elementos da superfície terrestre. Desse modo, se todos os gestores utilizassem essa ferramenta nas suas tomadas de decisão, haveria, sem dúvida, uma infinidade menor de “Buriticupus” no Brasil e no mundo. Saulo Roberto de Oliveira Vital 27 de fevereiro de 2025 (Foto: Voçorocas no Município de Buriticupu, MA. Fonte: Poder 360)