Colunistas Henrique Maroja

Crônica – O Nome da Capital

A história, essa senhora caprichosa, às vezes escreve com tinta de ironia e pena de contradição. Percorrer a orla de Tambaú ou o casario do Centro Histórico é, ao mesmo tempo, mergulhar nas belezas de João Pessoa e no silêncio de um nome que falta. Sim, a cidade se chama João Pessoa – e não Epitácio. E isso, convenhamos, é um enigma que desafia a memória e o senso de justiça histórica. Vale salientar que sou um entusiasta dos nomes de cidades que venham a partir de sua fauna, flora, rios, figuras históricas que representem verdadeiramente o viés daquele povo, daquela região. Dessa forma deixo claro que não torço por uma mudança de nome que seja substituída por outro político, pois tenho convicção que temos uma vasta lista de nomes naturais mais identificados e conectados com nossa geografia, nossas aves, nossos rios, nossa flora, além é claro de tantos outros nomes de homens e mulheres merecedores de tal homenagem. João Pessoa, o homem, foi governador da Paraíba por dois anos. Seu governo, embora tenha deixado marcas, foi pautado por medidas de confronto, perseguições políticas, censuras e uma postura autoritária que dividiu profundamente a sociedade paraibana. Seu assassinato em 1930, é claro, foi o estopim simbólico de uma revolução (ou seria golpe?), mas revoluções, como sabemos, também se alimentam de mitos cuidadosamente moldados. Morreu e virou mártir. Mártir de quê, exatamente? Talvez da conveniência política. E então, a cidade – que antes se chamava Parahyba – teve seu nome trocado, num ato que parecia mais propaganda do que homenagem. Como se o assassinato prematuro do sobrinho lavasse todos os pecados do governador. Como se a Paraíba precisasse esquecer seus traumas renomeando sua capital com a aura falsa de um herói trágico. Mas e o tio? Epitácio Pessoa, esse sim, foi um gigante. Presidente da República, jurista respeitado, representante do Brasil em Versailles, pacificador em tempos de conflito mundial, defensor da Paraíba em todos os palcos. Foi ele quem levou água ao Sertão, quem elevou a autoestima de um povo que se via sempre às margens. Não foi apenas um político: foi um estadista. Foi um homem que amava a Paraíba não com slogans, mas com obras e gestos. E, ironicamente, ficou com o nome de uma avenida. Sim, uma avenida – bonita, movimentada, mas ainda assim um fio de asfalto para quem pavimentou o caminho da Paraíba no cenário nacional e internacional. Então se é para escolher um político como nome da cidade, o que sou contra como já disse antes, por que a cidade não se chama Epitácio? Por que a gratidão coletiva é, às vezes, míope? Ou será que é covarde? Talvez seja porque João morreu cedo, e os que morrem cedo são mais fáceis de esculpir em bronze. Talvez porque sua morte interessava a uma narrativa maior, uma revolução (golpe), um novo regime. Mas a história real é mais teimosa que a oficial. Ela permanece nos becos, nas esquinas, nas lembranças de um povo que sabe – mesmo que em silêncio – quem realmente lhe foi leal. E talvez, um dia, quando a cidade quiser olhar para o espelho com mais verdade, reveja sua homenagem. Talvez seja hora de pensar se a capital da Paraíba carrega o nome certo ou apenas o nome mais conveniente. Porque nomes têm peso. E esse, o da cidade, ainda soa estranho no ouvido de quem conhece a história completa. Por que não Epitácio? (Imagem: reprodução arquivo Secom PMJP) Parahyba, 04 de junho de 2025 Henrique Maroja

Colunistas Henrique Maroja

Crônica – O Silêncio que Late ou Chora em Plástico

Outro dia, parado numa sala de espera, observei uma senhora ninando um bebê com toda a doçura que só o amor maternal proporciona. A princípio, me comovi. Depois, com um leve balançar do plástico refletindo a luz fluorescente, percebi: não era um bebê. Era um “reborn” — um boneco hiper-realista que emula com perfeição a fragilidade de um recém-nascido. Fraldas, mamadeira, manta bordada com o nome fictício da criança. E, pasmem, a senhora esperava uma consulta médica para ele. Sim, médica. Para o boneco. Antes que se ria com deboche, é preciso respirar fundo e olhar ao redor. Porque essa senhora não está só. Os humanos estão cada vez mais humanos apenas na aparência. Do lado de dentro, têm se esvaziado de vínculos reais, de convivência, de atrito — de tudo aquilo que torna o ser humano suportável e, paradoxalmente, insuportável. E nesse vácuo, vai se instalando o conforto silencioso dos pets e bonecos. São seres — ou objetos — que não discordam, não julgam, não gritam, não abandonam. São companhia que não confronta. Amor sem espelhos. Os pets, esses já dominam os espaços há mais tempo. Hoje, muitos dividem não só o sofá, mas o travesseiro. Entraram na cama do casal como quem não quer nada, e agora roncam entre dois humanos afastados por uma muralha de pelos e silêncio. Muitos casais já dialogam mais com seus cachorros do que entre si. “Amor, ele já comeu? Será que ele tá com frio?” — enquanto a relação esfria como um resto de café esquecido. E os filhos reais? Aqueles de carne, osso e boletins escolares? Muitas vezes ficam relegados ao segundo plano enquanto o pet tem plano de saúde, acupuntura, dieta sem glúten. O cachorro late, e a mãe corre. O filho chora, e a mãe pede silêncio. A prioridade emocional migrou. A fragilidade transferiu-se de lugar. O que é mais fácil de cuidar passou a valer mais. Há uma fuga declarada de tudo que pode causar conflito. Melhor um cachorro no colo do que uma conversa franca com um filho. Melhor um gato no peito do que a tentativa frustrante de um novo relacionamento. Melhor um reborn de plástico do que um neto real que pode crescer, errar, falar palavrão, virar adolescente. Assusta menos. Dói menos. Mas também vive menos. Temos preferido substituir a convivência com seus impasses por bonecos que não têm vontades, opiniões, crises existenciais ou birras. A vida foi perdendo gente e ganhando simulacros. É uma espécie de apagão emocional voluntário — uma renúncia à dor que também nos impede de sentir o prazer autêntico da conexão com o outro. Até quando? Não sei. Mas o dia em que alguém conseguir mesmo declarar um reborn no imposto de renda como dependente, talvez alguém também devesse declarar a própria dependência de uma solidão disfarçada de afeto. A humanidade está se protegendo do humano como se fosse um vírus. E, no fim das contas, quem sobra somos nós — cada vez mais cercados de presenças que não respiram, não discordam, não abraçam de verdade. Apenas simulam. E a simulação tem sido suficiente, triste e convenientemente. Até que o coração — de carne — comece a cobrar a conta. João Pessoa, 15 de maio de 2025 (Imagem de freepic.diller no Freepik)

Adriana Costa Colunistas

A saudosa ex-primeira-dama da República, Ruth Cardoso, revira no túmulo

A paulista Ruth Cardoso foi primeira-dama do Brasil entre os anos de 1995 e 2003, durante o governo do marido, Fernando Henrique Cardoso. Ela foi antropóloga, professora universitária e ativista social. Lembro que dona Ruth, era sempre lembrada como sinônimo de intelectualidade, educação e postura refinada. Uma mulher elegante que mantinha uma preocupação legítima com a desigualdade social e dificuldades financeiras enfrentadas por grande parte da população brasileira. Dona Ruth era defensora ferrenha da inclusão social e do fortalecimento da sociedade civil e, para tanto, fez o que lhe era possível para ajudar a população mais carente. Ela criou um programa social chamado ‘Comunidade Solidária’ que, em breves palavras, posso dizer que funcionava como suporte para capacitar comunidades e oferecer oportunidades para pessoas em situação de vulnerabilidade através de ações diversas como: alfabetização solidária em regiões carentes; universidade solidária para jovens do interior do país; capacitação solidária através de cursos de qualificação profissional para jovens em situação de risco; artesanato solidário para valorização do trabalho manual para geração de renda; e, também, através de uma iniciativa chamada comunidade ativa, através da qual a descentralização de ações governamentais estimulava o desenvolvimento econômico local. Era assim. Dona Ruth defendia a tese do “socorro temporário”, do “ensinar a pescar”, da capacitação. E não da esmola eleitoreira. Abordo esse tema porque toda vez que ouço falar em ‘Bolsa Família’ me surpreendo ao lembrar que o Congresso Nacional aprovou o projeto do Orçamento de 2025 (PLN 26/24), ainda no mês de março de 2025 dedicando ao setor da Assistência Social muito mais recursos do que ao da Educação e até ao da Saúde. De acordo com informações da Agência Câmara de Notícias, o orçamento final liberou um montante de R$ 282,9 bilhões para Assistência Social, enquanto que a Educação ficou com R$ 175,40 bilhões, a Saúde com R$ 234,4 bilhões e até a reserva de contingência ficou com R$ 89,9 bilhões. Sabe quanto ficou para o Bolsa Família? Um total de R$ 160 bilhões. Eu digo, lamento, mas repito: tenho certeza que dona Ruth revira no túmulo ao ver no que se transformou a iniciativa dela. Sim, porque, no papel é muito bonita a ideia de distribuir dinheiro para os desvalidos, os mais necessitados, os que estão, realmente, em situação de vulnerabilidade. Mas aqui, no mundo real, a gente vê o quanto tem gente que usa o Bolsa Família para apostar no jogo do Tigrinho, para pagar a cachaça do fim de semana ou mesmo para comprar as famosas “bRusinhas” pela internet. Aqui no mundo real, a gente vê que o assistencialismo leva uma das maiores fatias do orçamento público porque foi transformada numa iniciativa eleitoreira eficaz e de sucesso. Só que isso tem um preço. E bate no bolso de todo mundo, principalmente, no de quem faz parte da classe média. Sim, porque o pobre não tem muito para dar e do rico ninguém toma. Então, a turma do meio fica pagando isso ou aquilo até o momento em que puder pagar. E como é que paga? Com reajuste salarial parco, aumento desenfreado em itens da cesta básica e… por aí vai… A dívida pública está crescendo, mas a paixão cega por políticos ou legendas partidárias impede até gente bacana de ver o que está acontecendo e enxergar o horizonte com mais cautela, principalmente, em tempos em que já somos convidados a analisarmos os nossos próximos votos eleitorais. Em tempo, vale a pena dizer que não sou contra a ideia de ajuda. De socorro. Mas me dói ver o que vejo aqui na vida real e, no fundo, no fundo… eu sei que você, por mais apaixonado(a) que seja por político ou partido ou federação que ainda nem existe oficialmente… concorda comigo e sabe que há solução para isso. E nem é preciso encerrar os programas assistenciais… basta uma fiscalização séria. Uma triagem bem feita. Só não há interesse em colocá-la em prática porque não rende votos. Para você que ainda é resistente ao enxergar o óbvio deixo, logo abaixo, a tabela das despesas previstas para o Orçamento de 2025 conforme Projeto da Lei Orçamentária Anual aprovado por deputados e senadores no mês de março. E ainda deixo o link da matéria completa publicada pela Agência Câmara de Notícias. Clique aqui. Para dona Ruth… deixo meu respeito e minhas orações. Despesas previstas no Orçamento de 2025 por função (R$ bilhões)   Projeto Relatório final Legislativa 11,7 11,7 Judiciária 50,1 50,1 Essencial à Justiça 10,4 10,4 Administração 33,9 33,8 Defesa 96,1 95,9 Segurança pública 16,7 17,3 Relações exteriores 4,7 4,6 Assistência social 285,8 282,9 Previdência social 1.078,20 1.086,50 Educação 177,50 175,40 Saúde 209,9 234,4 Trabalho 120,7 121,9 Cultura 2,6 2,9 Direitos da cidadania 2,8 2,9 Urbanismo 2,8 9,3 Habitação 0,8 0,7 Saneamento 1,9 1,7 Gestão ambiental 26,6 29,1 Ciência e tecnologia 25,3 22,3 Agricultura 31,6 34,3 Organização agrária 4,2 4,6 Indústria 2,4 2,4 Comércio e serviços 4,7 5,9 Comunicações 3,3 3,4 Energia 1,2 1,2 Transporte 18,2 17,4 Desporto e lazer 0,4 2,8 Dívida pública 3.344,40 3.355,60 Reserva de contingência 130,5 89,9 Fonte: Relatório final do projeto de lei orçamentária (Imagem de capa: Freepik)

Colunistas Saulo Vital

As mudanças climáticas e a mudança da matriz energética: fatos ocultos

As mudanças climáticas proporcionam uma nova realidade ao mundo. Se tratando de matriz energética, a impressão que tenho há um certo tempo é que há um constante “bate-cabeça”. Estou na Europa, mais especificamente em Portugal, há cerca de 4 meses, de onde vim fazer meu pós-doutorado. Percebo ao longo desses meses uma realidade onde os automóveis elétricos se fazem cada vez mais presentes. Realidade um tanto que diferente do Brasil, que engatinha nesse setor, embora algumas iniciativas já estejam sendo tomadas. Normalmente, sabemos que as coisas acontecem assim mesmo, elas chegam primeiramente aos Estados Unidos e à Europa, para depois chegar ao sul global. No entanto, não é esta a questão central que quero comunicar ao leitor. O fato é ainda mais profundo. Quando tratamos de mudança da matriz energética, alguns fatos intrigantes nos revisitam, como este dos veículos elétricos. A Europa tem sido invadida por esta realidade, por precisar alcançar metas de redução da emissão de carbono na atmosfera, coisa que também temos visto positivamente, que se expressa, também, na coleta seletiva do lixo, que se faz de uma forma bastante diferente do Brasil. As pessoas já têm uma certa consciência no tocante à separação dos itens antes de descartá-los, contribuindo substancialmente para a reciclagem. Isso se vê nas ruas, em frente às residências, em cada estabelecimento comercial. Algo muito positivo, digamos de passagem. Contudo, retornando ao fato dos veículos elétricos, há uma questão muito intrigante, pois os governos da Europa sabem muito bem de onde vem a fonte para alimentar as baterias elétricas que circulam nesses veículos. Uma delas vem do próprio território brasileiro, onde se desmatam hectares e hectares de mata nativa para explorar os minérios essenciais para a fabricação desses utensílios. Ou seja, afora a questão do lixo, que me parece muito louvável, a estória dos automóveis elétricos na Europa. Mas, na realidade, soa somente como uma maquiagem de bondade para se alcançar metas de emissão, jogando a bomba da responsabilidade para outros países. Isso nos mostra que a mudança da matriz energética é algo muito mais complexo do que tão simplesmente substituir veículos movidos a combustíveis fósseis por veículos elétricos. 15 de maio de 2025 Saulo Roberto VitalGeógrafo, Doutor em Geociências e Professor da UFPB (Imagem de user6702303 no Freepik)

Colunistas Henrique Maroja

Crônica – A Geração do Depois

A palavra do nosso tempo não é mais “sim”, nem “não”. É depois. Ela escorre da boca como se fosse resposta universal para tudo que exija esforço, concentração ou uma dose mínima de disciplina. Ler um livro? Depois. Fazer um curso? Depois. Escrever aquele projeto, estudar aquela matéria, organizar as finanças, começar a terapia, aprender a cozinhar, entender como o mundo funciona? Depois. E o “depois” de hoje, sabemos, é só o nome educado do nunca. Vivemos numa cultura molenga, amortecida, onde o mínimo já parece muito, e qualquer coisa fora da bolha do prazer instantâneo é descartada com desinteresse. Há uma indiferença escancarada diante do que é importante, uma apatia disfarçada de leveza. “Ah, deixa fluir”, dizem. Mas o que flui mesmo é o tempo – e ele não volta. O problema não é a falta de talento, nem de oportunidade. É a falta de tesão em crescer. A geração atual – tão criativa, tão conectada, tão cheia de potencial – parece ter se tornado refém de uma preguiça existencial. Não a preguiça gostosa de um domingo à tarde, mas aquela que paralisa. Que neutraliza. Que embrulha qualquer possibilidade de conquista dentro do papel de presente do depois. Disciplina virou palavrão. Dedicação, sinônimo de careta. Concentração, uma ofensa à dopamina. E qualquer convite à melhoria pessoal soa como um esforço desnecessário diante da promessa colorida de um vídeo de 15 segundos que dança, ri e “entretém”. Como competir com isso? É como se o mundo real – aquele onde o sucesso demora, onde a aprendizagem exige tempo, onde o crescimento dói – tivesse perdido o charme. E em seu lugar, cresceu um mundo artificial onde tudo é rápido, fácil, bonitinho e sem consequência. Um lugar onde o fracasso não existe, onde não se sua, não se insiste, não se aprofunda. E ainda assim, todos seguem cansados. Cansados sem ter feito. Frustrados sem ter tentado. Perdidos sem terem saído do lugar. Porque mesmo que o corpo esteja imóvel, a mente cobra. Cobra o tempo desperdiçado, cobra a promessa não cumprida, cobra a vida não vivida com mais coragem. A verdade é que o “depois” está matando a potência de uma geração brilhante. Gente boa, cheia de ideias, de sonhos – mas que espera o algoritmo decidir a próxima ação. Espera um sinal do céu ou um áudio motivacional pra começar qualquer coisa. Espera “a vontade bater”. Como se a vontade batesse à porta, fizesse check-in e dissesse: “Pronto, agora vai!”. Mas não vai. Nunca vai. Porque crescer dá trabalho. Porque ninguém aprende nada importante sem ralar. E porque tudo o que vale a pena exige começar antes, não depois. A geração do depois ainda pode virar a geração do agora. Mas vai ter que brigar com o próprio comodismo, com a sedução do sofá, com o vício da distração e com essa ideia insidiosa de que viver é só consumir, e não construir. O tempo está passando. O mundo continua girando. E a pergunta fica: você vai deixar pra depois mais uma vez? João Pessoa, 05 de maio de 2025 (Imagem de 8photo no Freepik)

Colunistas Henrique Maroja

O verdadeiro jacaré dos anos 90 e início de 2000

Nos anos 90 e início dos 2000, a Praia do Jacaré não era apenas palco do mais famoso pôr do sol da Paraíba – era o refúgio secreto da juventude. A partir de quinta-feira à noite, a vila ribeirinha se transformava num roteiro mágico. O calor do fim de tarde dava lugar a uma brisa salgada e misteriosa, anunciando uma sequência de festas que marcariam gerações. Cada dia tinha nome, clima e música próprios; juntos, formavam um calendário afetivo que só fazia sentido completo na memória de quem viveu aquela época. Às quintas-feiras, entrávamos na atmosfera do Caleidoscópio. Partíamos de João Pessoa ao anoitecer, cruzando uma estrada de barro estreita onde nada se via além dos faróis. Com cada quilômetro, crescia a sensação de estarmos a caminho de algo proibido: o píer de madeira ficava longe, quase secreto, tornando tudo ainda mais emocionante. Ao chegar ao nosso “ponto de encontro”, éramos recebidos por lanternas tremeluzindo entre coqueiros e pelo grave profundo de um som de alta qualidade. O Caleidoscópio era um esconderijo adulto: luzes coloridas dançavam na noite enquanto batidas eletrônicas invadiam a mata, fazendo-nos acreditar que havíamos entrado noutro universo. Quando a sexta-feira chegava, trocávamos o clima de segredo pelo ar festivo da Aldeia do Rio. Esse píer, mais próximo e iluminado pelo luar, era amplo o suficiente para reunir tribos diferentes e várias gerações. Lá, patricinhas desfilavam com saltos altos, outras tribos eram mais pé no chão com suas sandálias havaianas, roqueiros pulavam de calça jeans rasgada, nós que éramos mais praianos de bermuda e tênis, e até turistas de férias descobriam aquela festa antes mesmo das hashtags existirem. A trilha sonora abria com bandas de pop e rock no começo da noite, e depois DJs locais mantinham a animação; tudo isso sob o céu aberto, com o luar refletido no rio. A Aldeia do Rio encarnava o espírito do “sextou” muito antes da palavra existir – uma euforia coletiva em que cada brinde anunciava a glória do fim de semana. No sábado, o Solar das Águas abria suas portas cedo, já ao entardecer, no primeiro píer de fácil acesso. Ali, o som era de pagode, samba e forró, tocando sem interrupção sob o próprio céu. Não havia paredes, apenas o firme brilho das estrelas para nos cobrir enquanto a brisa do mangue refrescava nossos corpos. Jovens de camisas floridas rodopiavam na pista improvisada, carregando copos de cerveja gelada, caipirinhas, uisque e a tradicional cachaça bebida em viradas de copo americano dividido entre amigos. O Solar das Águas tinha o calor de uma grande roda de amigos: reunia a juventude dourada de João Pessoa e os turistas curiosos, compartilhando sorrisos sob o luar até altas horas. Mas o ápice do fim de semana sempre acontecia no domingo, com o lendário Rock no Rio. Durante o dia, a praia fervilhava de jovens nos lendários bares Peixe elétrico, pote de barro, convívio mar num ritual sagrado do domingo na capital paraibana daquela época, á espera que viria à noite. Da praia partíamos para a casa de um amigo (sempre havia uma casa disponível) para dar o pontapé inicial daquela que era a melhor e mais esperada balada da semana toda. Entre risos e planos para a semana que viria, sabíamos que aquele era nosso ritual de despedida do fim de semana. Quando o sol começava a cair, partíamos em massa para o píer do Rock. No cais de madeira, a cena era de cinema: a juventude mais bonita e livre da capital, de mãos dadas com turistas de outros cantos. As bandas locais – Os Impossíveis, Área 51, Hangar 18 e várias outras – assumiam o palco com riffs rasgados e letras sobre estrada, amor e rebeldia. Cantávamos juntos, sentindo uma onda de liberdade coletiva, como se fôssemos donos do mundo, antes mesmo de o resto do planeta notar que Jacaré tinha seu próprio som. Hoje, porém, há outro retrato na beira do rio. As quatro grandes baladas deram lugar a quiosques de artesanato, bares de frutos do mar e feirinhas gastronômicas. As pessoas vão ao Jacaré para o famoso pôr do sol ao som do saxofone de Jurandy, não mais para dançar até de madrugada. Os turistas chegam em passeios de catamarã, tirando fotos e comprando lembranças, completamente alheios ao festejo rebelde de antes. A ginga das pulseiras de forró e o som das guitarras foram substituídos pelo murmúrio do público em mesas de bambu e pelo vai-e-vem dos barcos sobre o luar. Guardamos a saudade das madrugadas sem fim, da areia úmida sob os pés e dos abraços que selavam cada despedida. Sabemos que a Jacaré de hoje é outra, e que cada geração vive sua própria viagem. Mas algo daquele tempo permanece imutável dentro de nós: a certeza de ter feito parte de algo único, uma história secreta gravada na memória. E é com esse sabor agridoce na alma – meio salgado como a brisa do mar, meio doce como a última música da noite – que seguimos adiante, orgulhosos das noites lendárias que um dia foram nossas. João Pessoa, 12 de maio de 2025 (Imagem: Freepik)

Adriana Costa Colunistas

O que será de uma Igreja Católica sem um papa que fazia a ‘lição de casa’ pregando o bem sem olhar a quem?

A morte do papa Francisco, na segunda-feira (21/04), pegou um planeta inteiro de surpresa tendo em vista que ele parecia estar saindo do quadro mais crítico de seu estado de saúde. Tanto que, apesar de não celebrar a tradicional missa de Páscoa preparou, pessoalmente, a homilia pascal que foi, de modo inédito, lida, a pedido do Pontífice, pelo cardeal Angelo Comastri. Francisco era isso… um inovador. Um líder católico que rejeitou o luxo disponível para os grandes líderes do catolicismo e arregaçou as mangas para tornar a Igreja Católica mais inclusiva apesar da resistência dura e difícil dos mais conservadores que fazem parte do alto clero católico. Quando Francisco foi elevado à condição de papa, a Igreja Católica vivia um período de séria crise de governança e credibilidade que culminou com a renúncia do então papa Bento XVI, a primeira em 600 anos da era moderna, a segunda desde a fundação do trono de São Pedro e que cuja justificativa “oficial” foi a falta de vigor, “seja do corpo, seja do ânimo”, para lidar com os problemas da instituição. O papa, cujo nome real era Jorge Mario Bergoglio, era um argentino que mesmo ocupando o mais alto posto da Igreja Católica abriu mão de morar no luxo do chamado ‘Palácio Apostólico’ e optou por residir na casa de hóspedes, desde o primeiro dia do seu papado. Francisco era diferente exatamente por dar o exemplo real, seguindo e vivendo na pele a humildade tão pregada pela igreja que ele representava, inclusive, proporcionando um diálogo de respeito e cordialidade inter-religiões tentando unir e pacificar os humanos. A postura de Bergoglio proporcionou à Igreja Católica mais de uma década de reencontro com o seu público e a simpatia de outras crenças. Portanto, a sua morte abre espaço para uma expectativa quanto ao futuro da Instituição que periga retroceder anos caso o novo escolhido seja um alguém apegado à tradições separatistas ou aos apelos rígidos do Velho Testamento. Francisco se mostrou um grande navegador que soube girar, com a diplomacia certa, o leme do navio católico em direção à águas menos turbulentas atraindo, inclusive, novos simpatizantes ao catolicismo. Resta saber se a fumaça branca representará a continuidade do bom legado deixado pelo papa Francisco… ou não. Fica no ar, portanto, a dúvida que intitulou este artigo: “O que será de uma Igreja Católica sem um papa que fazia a ‘lição de casa’ pregando o bem sem olhar a quem?“ O fato é que… até eu… senti muito pela passagem do bom pastor e, por tudo que fez, tenho certeza, ele está sendo muitíssimo bem acolhido pela espiritualidade amiga em um outro plano de muita luz. Assim seja!

Alessandra Riedel Colunistas

Depois da Páscoa… uma das datas mais importantes do calendário mundial: o dia das mães

Estamos chegando numa data lindíssima… o Dia das Mães é uma data especial para homenagear as mulheres que nos amam e cuidam de nós incondicionalmente. E nada melhor para presenteá-las do que com um gesto de amor e beleza. Concorda? As semijoias são uma ótima opção para presentear mãe, avó ou outra mulher especial em sua vida. Com designs variados e materiais de qualidade, as semijoias podem ser uma forma de demonstrar carinho e apreço. Seja um colar delicado, um anel elegante ou um par de brincos estiloso; as semijoias podem adicionar um toque de glamour e sofisticação ao look de sua mãe. Além disso, as semijoias são uma opção acessível e versátil, permitindo que você escolha o presente perfeito para sua mãe, independentemente do seu estilo ou preferência. Para facilitar a sua vida e encurtar o trabalho de encontrar um presente especial para sua mãe, a dica que dou é a @fascinarisemijoias. Uma empresa, nordestina, consolidada e que envia produtos expostos no catálogo para todo o Brasil. E, para os leitores do portal Click100.com.br, um desconto de 15% na primeira compra é certo e garantido! Corre, aproveita e arrasa na escolha para a sua mãe! (Imagem de pikisuperstar no Freepik)

Adriana Costa Colunistas

“Das grandes economias, o Brasil foi a mais mal gerida do mundo no ano passado”, diz economista-chefe do Banco Mundial

O economista indiano Indermit Gill disse com todas as letras, durante uma entrevista no início do mês de março de 2025, que “das grandes economias, o Brasil foi a mais mal gerida do mundo no ano passado”. Chamo atenção para o fato de Gill não ser um mero curioso sobre o assunto, mas, sim, “o” economista-chefe do Banco Mundial. Segundo a análise de Gill, o Brasil está gastando mais do que tem, se endividando ainda mais e vivendo a realidade de ter um PIB (Produto Interno Bruto) que avançou 3%, mas, ainda assim, possuir um déficit que já supera os 7%. Coisa nada boa. Esses números, segundo o especialista, derrubam o valor do real fazendo com que, em dólares, o PIB per capita do país fique menor. Por mais que a paixão de alguns por políticos e ideologias resista à uma percepção clara da realidade, o fato é que a economia brasileira, como um todo, está cada dia mais longe de onde deveria estar em comparação aos países de renda alta. Dito isto, queridos (as), está na hora de perceber que não basta a manutenção de uma “paixão” ou defesa cega por esse ou aquele político. Não basta dançar ciranda numa praça ou rezar para um pneu. É preciso muito mais. É preciso abrir os olhos para o macro e perceber o que vem sendo feito com a economia do país. E nem adianta “lulista” me chamar de “bolsonarista” e “bolsonarista” me chamar de “lulista” porque, assim como você, eu sou parte da população que fica, literalmente, no meio de devoções injustificáveis, sofrendo as consequências de “briguinhas” que passam à milhas e milhas de distância da razoabilidade. Portanto, caro (o) leitor (a), em vez de apenas ouvir o que o político está dizendo – através de um discurso pensado, ensaiado e estratégico! – está mais que na hora de aprender a ouvir especialistas respeitados, acompanhar números da transparência pública, ver os efeitos da economia no próprio bolso e deixar de viver de ideologia, sorrisos e abraços, pois – pasmem! – são três termos que não põem comida na mesa. Essa realidade da economia brasileira é cruel, principalmente, para quem é da classe média, setor cada vez mais com menor capilaridade porque carrega nas costas, há décadas, a responsabilidade de “minimizar” os desequilíbrios econômicos que afetam o país.  Sim, porque, dos ricos ninguém tira, dos pobres não há quase mais nada para tirar… realidades que “naturalmente” jogam a cota de maior sacrifício para quem? Isso mesmo… para a classe média que é “empurrada”, cada vez mais, para muito perto daquele precipício que a faz olhar, de frente, para uma condição financeira menos favorável. A solução para isso é votar certo. Iniciativa que, ao contrário do que muitos dizem, não é difícil. Só é trabalhosa… porque para “conhecer” um pouco mais os políticos que “nos representam” a gente tem que acompanhar a vida parlamentar de cada um. Ler proposituras. Conferir frequência. Ouvir/ler discurso feito por cada. Enfim, dá trabalho, como disse. Mas é um conjunto de ações necessárias. Muito necessárias. Vitalmente necessárias. Enfim, acho que deu para começar a compreender de vez que, ou a gente começa a se envolver do jeito que pode para ajudar ao nosso país, que é a nossa casa… ou a situação pode ficar cada vez mais complicada… na nossa cara. Quer a fonte da entrevista do indiano? Então, pega aí, clicando aqui.

Adriana Costa Colunistas

Se vivo fosse, Ronaldo Cunha Lima completaria 89 anos nesta terça-feira

Hoje é dia 18 de março. Acordo com a informação de que se vivo fosse, Ronaldo Cunha Lima completaria 89 anos. E ao ler o texto que Cássio, o filho, escreveu para o pai, me fez pensar um bocado. Tanto que nem consigo explanar o quanto. Me fez pensar porque, primeiro, sou muito família. Para mim esse é um laço inquebrantável. Inegociável. E, pelo amor de Deus… estou falando de família… a família raiz… não de parente. Segundo, porque o mundo pode falar quaisquer coisas… mas não consegue duvidar do amor de Cássio por Ronaldo. Sentimento que, tenho certeza, alimentou muito da poesia “ronaldiana” e ainda é força motriz para Cássio. Nesse texto especificamente não faço, em momento algum, referência ao pai e filho políticos e, sim, apenas e tão somente, ao filho e ao pai, nessa ordem, que permite um amor vísivel e recíproco daqueles que tanto deve inspirar. “Quem tem boca fala o que quer“, já diz um antigo ditado popular mas, quem tem um mínimo de bondade, não tem coragem de duvidar do laço amoroso que uniu e nunca mais separa um Cássio de um Ronaldo… um Ronaldo de um Cássio… um filho de um pai. Logo abaixo segue um texto escrito por Cássio pela data de hoje. “Hoje, meu pai completaria 89 anos. A saudade continua serena, a gratidão e o orgulho que sinto por ser filho de Ronaldo Cunha Lima são intensos. Não tive apenas um pai amoroso e zeloso; tive, ao longo da vida, um amigo, conselheiro e orientador. Como aprendi – e ainda aprendo – com ele! Nele me inspiro e balizo meus gestos e atitudes. Poeta de alma pura e coração generoso, segue nos ensinando através de sua obra, que é eterna. Foi um advogado brilhante e um político que dedicou sua vida ao povo e à justiça. Seu legado permanece vivo em cada palavra que nos deixou, em cada gesto que nos dedicou e na memória daqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo de perto. Que sua poesia continue inspirando as novas e futuras gerações, e que sua história jamais seja esquecida. Parabéns, meu pai! Sua luz nunca se apagará, Poeta! Cássio Cunha Lima” Confira vídeo: Confira imagens:

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