A palavra do nosso tempo não é mais “sim”, nem “não”. É depois.

Ela escorre da boca como se fosse resposta universal para tudo que exija esforço, concentração ou uma dose mínima de disciplina. Ler um livro? Depois. Fazer um curso? Depois. Escrever aquele projeto, estudar aquela matéria, organizar as finanças, começar a terapia, aprender a cozinhar, entender como o mundo funciona? Depois.

E o “depois” de hoje, sabemos, é só o nome educado do nunca.

Vivemos numa cultura molenga, amortecida, onde o mínimo já parece muito, e qualquer coisa fora da bolha do prazer instantâneo é descartada com desinteresse. Há uma indiferença escancarada diante do que é importante, uma apatia disfarçada de leveza. “Ah, deixa fluir”, dizem. Mas o que flui mesmo é o tempo – e ele não volta.

O problema não é a falta de talento, nem de oportunidade. É a falta de tesão em crescer. A geração atual – tão criativa, tão conectada, tão cheia de potencial – parece ter se tornado refém de uma preguiça existencial. Não a preguiça gostosa de um domingo à tarde, mas aquela que paralisa. Que neutraliza. Que embrulha qualquer possibilidade de conquista dentro do papel de presente do depois.

Disciplina virou palavrão. Dedicação, sinônimo de careta. Concentração, uma ofensa à dopamina. E qualquer convite à melhoria pessoal soa como um esforço desnecessário diante da promessa colorida de um vídeo de 15 segundos que dança, ri e “entretém”. Como competir com isso?

É como se o mundo real – aquele onde o sucesso demora, onde a aprendizagem exige tempo, onde o crescimento dói – tivesse perdido o charme. E em seu lugar, cresceu um mundo artificial onde tudo é rápido, fácil, bonitinho e sem consequência. Um lugar onde o fracasso não existe, onde não se sua, não se insiste, não se aprofunda.

E ainda assim, todos seguem cansados. Cansados sem ter feito. Frustrados sem ter tentado. Perdidos sem terem saído do lugar. Porque mesmo que o corpo esteja imóvel, a mente cobra. Cobra o tempo desperdiçado, cobra a promessa não cumprida, cobra a vida não vivida com mais coragem.

A verdade é que o “depois” está matando a potência de uma geração brilhante. Gente boa, cheia de ideias, de sonhos – mas que espera o algoritmo decidir a próxima ação. Espera um sinal do céu ou um áudio motivacional pra começar qualquer coisa. Espera “a vontade bater”. Como se a vontade batesse à porta, fizesse check-in e dissesse: “Pronto, agora vai!”.

Mas não vai. Nunca vai. Porque crescer dá trabalho. Porque ninguém aprende nada importante sem ralar. E porque tudo o que vale a pena exige começar antes, não depois.

A geração do depois ainda pode virar a geração do agora. Mas vai ter que brigar com o próprio comodismo, com a sedução do sofá, com o vício da distração e com essa ideia insidiosa de que viver é só consumir, e não construir.

O tempo está passando. O mundo continua girando. E a pergunta fica: você vai deixar pra depois mais uma vez?

João Pessoa, 05 de maio de 2025

(Imagem de 8photo no Freepik)

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