Em Ponta de Campina, Cabedelo, o Mercado Almagre nasceu de uma vontade, quase uma obsessão, de transformar o espaço. Idealizado por Fabiano Lucena e fortalecido por Henrique Maroja, o empreendimento não foi apenas uma construção, mas um elo entre passado e futuro, entre a história da Paraíba e a vibração contemporânea que fazia os corações pulsarem mais rápido. O nome “Almagre”, que em árabe significa “areia vermelha”, já dizia muito sobre o que viria: um convite ao mistério, à ancestralidade e, claro, à pluralidade cultural. Algo nascido do encontro de tantas coisas — das influências mouras da colonização, do sal, da areia e das pessoas que se encontraram ali.
A pegada do Mercado Almagre sempre foi clara, livre e alternativa. Um local onde a rigidez dos espaços comerciais tradicionais era deixada de lado, dando espaço para a arte e para a cultura. Artistas locais podiam se apresentar sem pressa de ser grandes, autores lançavam suas obras como quem leva uma semente ao solo fértil, e blocos de carnaval (fantasmas do almagre e fantasminhas) nasciam ali, como uma ressurreição da história daquele lugar. Nas ruas de Almagre, o samba, o frevo e a poesia se misturavam aos acordes de novos artistas e ao calor humano que só um mercado tão cosmopolita poderia proporcionar.
A conexão entre Fabiano e Henrique era a chave do sucesso. Eles sabiam exatamente o que queriam: um espaço para quem desejasse ser livre, sem amarras, onde a regra era clara: “é proibido proibir”. Essa filosofia impulsionava o Mercado, que se tornou um centro de resistência cultural e um ponto de encontro para todos os tipos de pessoas. Ali, os limites não existiam. Podiam se misturar empresários e artistas, políticos e trabalhadores da construção civil, ricos e pobres, solteiros e casais, trisais, amantes e ex-amantes. O Mercado Almagre era um espelho da sociedade, mas com uma nuance de magia, como um lugar onde os encontros e desencontros aconteciam como se o próprio espaço tivesse o poder de moldar as pessoas.
Os ciclos de clima — com seus invernos e verões — refletiam bem as transformações do Almagre. O inverno, com seus ventos frios e águas turvas, trazia uma calmaria que contrastava com os verões quentes, onde o Mercado fervilhava de energia. Era durante essas estações que o público se alternava, com turistas e moradores, jovens e velhos, dançando ao som da vida que ali se celebrava. Contudo, a magia do lugar nunca se dissipava. Mesmo com a mudança das estações, o Mercado Almagre nunca perdeu sua essência. Ele sempre foi o mesmo, mas ao mesmo tempo era outro, renovado pela paixão e pelas novas ideias que traziam consigo.
Não eram apenas os negócios que ganhavam espaço na região; o Mercado Almagre também atuava como uma mola propulsora do crescimento da construção civil e da urbanização ao redor. Novos empreendimentos, condomínios, lojas e restaurantes surgiram em torno dele, e sua presença parecia dar força ao desenvolvimento, como se o Mercado fosse o coração pulsante de Ponta de Campina, Cabedelo. Mas, claro, nem todos compartilhavam dessa visão. Os moradores locais, que até então conheciam a esquina como um ponto de anonimato, começaram a se queixar do barulho constante, das noites longas e da movimentação incessante que atravessava suas rotinas mais silenciosas.
Havia, de fato, uma tensão na transformação do Mercado Almagre. Para alguns, ele era sinônimo de progresso e celebração da cultura, mas para outros, o agito e o frenesi de tantos públicos o tornavam uma força invasiva. Era uma esquina que, de repente, passou do anonimato ao estrelato em um piscar de olhos, uma mudança que parecia, muitas vezes, arranhar a paciência dos que ali moravam. A energia vibrante do Mercado, com seu calendário de eventos e programação sempre imprevisível, alterava os ritmos da cidade, trazendo à tona tanto o encantamento mas por vezes alguma rusga.
Ainda assim, o que o Mercado Almagre representava para seus frequentadores mais entusiastas era algo indiscutível. Ele era uma opção constante, uma agenda cultural viva e pulsante, que oferecia não apenas entretenimento, mas uma experiência de convivência única. E, no fundo, todos sabiam que ali, mais do que um mercadinho, estava uma poesia a céu aberto. Poesia que se faz com encontros e desencontros, com separações e uniões, com a arte da vida acontecendo a cada esquina. Era o Mercado Almagre: um espaço onde tudo podia acontecer, onde a cidade se transformava e o imaginário se ampliava.
Fica aqui nosso singelo registro de todos os bons momentos e experiência vividas, e bem vividas, por uma tribo eclética e única que sabe que o que foi vivido ali ninguém apaga da memória. Viva o Almagre, viva as relações construídas, viva as novas fases e empreendimentos que surgiram e surgirão a partir desse estado de espírito que foi esse espaço!