Metade dos ensaios clínicos ignora avaliação rigorosa e compromete resultados

Um estudo internacional liderado por pesquisadores da Universidade de Copenhague e da Universidade de São Paulo (USP) revela que metade dos ensaios clínicos sobre TDAH em adultos ignora avaliações diagnósticas rigorosas, comprometendo a confiabilidade dos resultados e colocando em xeque diretrizes terapêuticas amplamente utilizadas.

Pesquisadores das universidades de Copenhague e São Paulo analisaram 292 ensaios clínicos randomizados — considerados padrão-ouro da medicina baseada em evidências — e identificaram falhas metodológicas graves na forma como o diagnóstico de TDAH em adultos foi conduzido. Segundo o estudo, publicado na revista European Psychiatry em 1º de julho de 2025, metade dos ensaios não realizou uma avaliação diagnóstica completa para excluir transtornos como depressão, esquizofrenia ou bipolaridade.

A professora Julie Nordgaard, psiquiatra consultora e uma das autoras da pesquisa, destaca que muitos estudos incluíram participantes com múltiplos transtornos mentais, dificultando a identificação precisa dos efeitos dos medicamentos testados. “Isso significa que não sabemos se os tratamentos investigados atuaram sobre o TDAH ou sobre outros distúrbios presentes nos participantes”, afirma.

O diagnóstico de TDAH em adultos é especialmente complexo. Originalmente desenvolvido para crianças, os critérios diagnósticos se baseiam em comportamentos infantis. Em adultos, no entanto, o diagnóstico depende de relatos subjetivos, como dificuldade de concentração ou impulsividade — fatores que também estão presentes em outros transtornos psiquiátricos.

O pesquisador Mads Gram Henriksen ressalta que 61% dos estudos não informam quem realizou o diagnóstico dos participantes. Apenas 35% indicam que o diagnóstico foi feito por um psiquiatra ou psicólogo. Em alguns casos, o diagnóstico foi autodeclarado ou realizado por computador, o que compromete a validade científica dos resultados.

Essa fragilidade metodológica tem implicações diretas na prática clínica. Ensaios clínicos randomizados são usados para embasar diretrizes terapêuticas e decisões médicas. Quando esses estudos não garantem diagnósticos consistentes, os tratamentos recomendados podem ser inadequados ou até prejudiciais.

O Dr. Igor Studart, coautor do estudo, observa que o aumento de diagnósticos de TDAH em adultos — muitas vezes impulsionado por conteúdos nas redes sociais — exige ainda mais rigor na pesquisa científica. “Precisamos entender como os ensaios clínicos estão lidando com esse desafio diagnóstico”, afirma.

Além disso, os pesquisadores alertam para o risco de tratamentos desnecessários e efeitos colaterais em pacientes que recebem diagnósticos equivocados. “Sem critérios uniformes e profissionais qualificados, não podemos confiar nos resultados nem compará-los entre estudos”, conclui Julie Nordgaard.

Impacto e implicações

  • Metade dos estudos falha em excluir outros transtornos mentais
  • 61% não informam quem realizou o diagnóstico
  • Tratamentos podem estar sendo aplicados a pacientes sem TDAH
  • Diretrizes clínicas baseadas em dados frágeis comprometem a eficácia terapêutica
  • Crescimento de diagnósticos impulsionado por redes sociais exige atenção redobrada

(Fonte: redação Click 100 com informações da Universidade de Copenhague – Faculdade de Humanidades / Imagem: Freepik)

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