Paraibano dependeu de Arthur Lira para conter motim bolsonarista

Em coluna assinada por Beatriz Rey, doutora em ciência política e pesquisadora na Universidade de Lisboa, e Mario Sérgio Lima, analista sênior da Medley Advisors, publicada na Folha, os especialistas afirmam que Hugo Motta (Republicanos-PB) demonstrou fragilidade política e falta de autoridade ao não conter o motim bolsonarista na Câmara dos Deputados, dependendo da intervenção de Arthur Lira para retomar o controle; segundo eles, apenas medidas duras e imediatas contra os insurgentes podem evitar o colapso de sua presidência.

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Motta é fraco, e só com pulso pode manter presidência da Câmara

Qualquer hesitação em punir insurgentes evidenciará a perda de comando

As cenas lamentáveis desta semana no Congresso Nacional revelaram muito sobre a política brasileira. Uma minoria estridente e antidemocrática de extrema direita sequestrou o Poder Legislativo em nome de uma pauta golpista, deixando evidente a tibieza do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Político ainda jovem e de modos suaves, o paraibano se mostrou muito aquém do cargo que ocupa e do momento histórico, precisando da intervenção de seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), para conter a rebelião.

Encurralado pelo motim liderado pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante, Motta saiu desmoralizado. Para recuperar legitimidade diante de seus pares e da sociedade, precisa agir sem demora: punir exemplarmente os golpistas e recusar-se a pautar qualquer medida da lista dos insurrectos. Qualquer hesitação será a confissão de que perdeu o comando —e, na prática, o fim de sua presidência.

O motim bolsonarista tomou a Câmara dos Deputados e o Senado por dois dias. No Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) retomou o controle do plenário sem constrangimento e já disparou que nem com a totalidade dos senadores exigindo uma pauta golpista —ainda mais sendo um impeachment de ministro do Supremo sem razão— retira dele seu poder de ditar os rumos dos trabalhos na Casa.

Já na Câmara, Motta tentou reassumir a Mesa Diretora, foi fisicamente impedido de chegar à sua cadeira, quase recuou para o gabinete e só voltou ao assento com apoio de líderes do centrão. A diferença de autoridade foi gritante: a oposição pediu desculpas a Alcolumbre, enquanto, na Câmara, fechou acordo com Arthur Lira para desocupar o plenário sem envolver o próprio Motta e anunciou na sua frente acordo em torno de votação de suas pautas.

Agora, Motta diz estar analisando as imagens para punir os parlamentares que participaram do motim. Suspender o mandato dos envolvidos é o mínimo para começar a recuperar poder sobre a Casa que preside. Mas é pouco. O ideal é a cassação da liderança do motim e, principalmente, de Eduardo Bolsonaro, que segue no exterior trabalhando contra os interesses nacionais, sem exercer o mandato desde o fim de sua licença. E, para demonstrar força de fato, Motta precisa enterrar qualquer tentativa de pauta golpista, especialmente a anistia para os envolvidos no 8 de janeiro.

Historicamente, o poder de um presidente da Câmara vem de duas fontes: a capacidade de equilibrar os diversos interesses do plenário e o peso da sua palavra nos acordos. Nesta semana, Motta falhou em ambas. Não conseguiu conter arbitrar o plenário e nem sequer participou do acordo que encerrou o motim. Se quiser sobreviver politicamente, terá de projetar força com medidas enérgicas e definitivas.

Caso contrário, o restante de sua gestão estará ameaçado e a reeleição ao cargo, em risco. O governo, aliás, deveria tomar nota: tem a chance de entrar em campo para ajudar Motta a se impor e, depois, cobrar a fatura.

(Fonte: Folha /Foto: reprodução Agência Brasil | Marcelo Camargo)

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