O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), acompanhou o início das celebrações em homenagem ao centenário de Elizabeth Teixeira, histórica líder camponesa paraibana, que celebrou 100 anos de vida na quinta-feira (13.02), e está sendo homenageada no Festival da Memória Camponesa, em Sapé, na Paraíba.
No primeiro dia das festividades, o evento foi marcado pela presença de seus familiares, incluindo filhos, netos, bisnetos e tataranetos, que participaram deste significativo reencontro. Também estiveram presentes representantes dos governos federal, estadual e municipal, que prestigiaram a ocasião.
Movimentos sociais do campo e urbano e professores da Universidade Federal da Paraíba também participaram deste encontro.
A chefe da assessoria de Participação Social e Diversidade do MDS, Jéssica Leite, considera que Elizabeth Teixeira é, indiscutivelmente, um ícone na luta camponesa. “Após o assassinato do seu companheiro Jose Pedro Teixeira, em 1962 assumiu a liderança das Ligas Camponesas e, ao longo de sua vida, enfrentou inúmeras adversidades, incluindo a violência e a separação de seus filhos”, conta.
Leite esteve presente na cerimônia, representando o MDS, e destacou que a história do Brasil não pode ser dissociada da trajetória de Elizabeth Teixeira, especialmente quando se fala da reforma agrária. “Como ela mesma dizia: “A terra é reforma agrária!”. Para Elizabeth, essa afirmação é a busca por condições dignas de vida para os trabalhadores e trabalhadoras do campo, responsáveis por produzir 70% dos alimentos consumidos pela população brasileira”, explica.
Para Leite, as políticas implementadas pelo MDS têm como objetivo fortalecer e promover a dignidade das famílias que vivem e trabalham no campo. “Nesse contexto, é fundamental continuar ampliando e aprimorando ações como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), as cisternas e o Fomento Rural, que são essenciais para a melhoria das condições de vida no meio rural”, enfatiza.
Um Compromisso com a reforma agrária
O Festival da Memória Camponesa não é apenas uma celebração do passado, mas uma oportunidade para fortalecer o compromisso com a reforma agrária e a justiça social. Provocar a classe trabalhadora a continuar a luta pela terra, pela educação e pela dignidade de homens e mulheres do campo, e a pensar a Luta como uma tarefa coletiva, que exige memória, organização e persistência.
A Trajetória de Elizabeth Teixeira
Elizabeth Altina Teixeira, nasceu em 13 de fevereiro de 1925, na comunidade de Antas do Sono, na época, município de Sapé, Paraíba. Filha mais velha de Altina Maria da Costa de origem latifundiária e Manoel Justino da Costa de família de pequenos proprietários de terra. Elizabeth enfrentou desde cedo as expectativas impostas pelo pai, que desejava ter um homem como primogênito. Desde jovem, ela demonstrava inconformismo com as injustiças praticadas pelos grandes proprietários de terra contra as famílias camponesas.
Em 1940, Elizabeth conheceu João Pedro Teixeira, um trabalhador negro e evangélico que trabalhava em uma pedreira próxima a sua casa. Apesar da resistência de seu pai, que desaprovava o relacionamento, Elizabeth desafiou a realidade social da época, casando-se com João Pedro. Juntos, construíram uma vida de amor e luta, dedicando-se à defesa dos direitos dos trabalhadores rurais.
João Pedro Teixeira tornou-se uma das principais lideranças das Ligas Camponesas de Sapé, organização criada nos anos 1950 para combater as violações do latifúndio e defender os direitos dos trabalhadores do campo. Em 1962, João Pedro foi assassinado em uma emboscada, a mando de grupos contrários à luta camponesa. No leito de morte de seu marido, Elizabeth prometeu continuar sua luta, assumindo papel de liderança nas Ligas Camponesas.
Durante sua gestão, Elizabeth ampliou a participação de mulheres nas Ligas, dobrando o número de associados. Contudo, com o golpe civil-militar de 1964, ela foi perseguida, obrigada a viver clandestinamente por 17 anos na cidade de São Rafael, no Rio Grande do Norte. Mudando de identidade para sobreviver, Elizabeth dedicou-se à alfabetização de crianças, mantendo viva a essência de sua luta.
Em 1981, com ajuda de seus dois filhos, o cineasta Eduardo Coutinho, reencontra Elizabeth, que retratou sua história no documentário Cabra Marcado para Morrer. Desde então, ela retomou o diálogo sobre as lutas e os conflitos dos povos do campo, consolidando-se como um símbolo da resistência camponesa.
Hoje, a casa onde Elizabeth viveu com sua família, na comunidade tradicional rural de Barra de Antas, em Sapé, abriga o Memorial das Ligas e Lutas Camponesas. Este sítio de memória é um espaço comunitário dedicado à preservação das histórias e das resistências dos povos do campo, reafirmando que a luta pela terra e pela justiça social não pode ser dissociada da memória.
Celebrar o centenário de Elizabeth Teixeira é mais do que uma homenagem; é um compromisso coletivo com a memória e a história das lutas camponesas no Brasil. Este evento é uma oportunidade de reafirmar os valores da resistência e da dignidade da classe trabalhadora do campo.
“Enquanto houver a fome e a miséria atingindo a classe trabalhadora, tem que haver luta dos camponeses.” (Elizabeth Teixeira)