O Gaeco – braço do Ministério Público de São Paulo que combate crime organizado – denunciou um grupo de seis suspeitos de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC), todos com extensa ficha policial, por ‘constituírem e integrarem organização criminosa destinada à prática de delitos contra a ordem tributária, exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro’.
A acusação, formalizada na terça-feira (06/05), vem na esteira da Operação Latus Actio, deflagrada no dia 12 de março de 2024 com o objetivo de reprimir a exploração de jogos de azar por intermédio de rifas promovidas e divulgadas por artistas e influenciadores em suas redes sociais.
De acordo com esta informação publicada pelo Estadão, a quebra do sigilo fiscal, bancário e telemático dos denunciados – entre os quais estão um suspeito que atualmente cumpre pena pelos assassinatos de ‘Gegê do Mangue’ e ‘Paca’, ambos líderes do PCC, e um outro que recebeu sentença de 15 anos de prisão por participar do roubo à sede do Banco Central em Fortaleza, da qual foram roubados R$ 150 milhões -, ‘evidenciou que parte dos recursos movimentados pelo grupo tem como origem o tráfico de drogas e outras atividades ilícitas, possibilitando a expansão do seu patrimônio por meio do uso de interpostas pessoas, como no caso da extensa fazenda localizada na Paraíba para a criação de gado’.
De acordo com as investigações a fazenda está localizada no Sítio Malhada Grande, em Cajazeiras, Município do Sertão paraibano, com o nome de “Fazenda Love Funk”.
Seis promotores do Gaeco subscrevem a denúncia contra Henrique Alexandre Barros Viana, o ‘Rato’, Daniela Cristina Viana, Gratuliano de Souza Lira, o ‘Quadrado’, ou ‘Quaqua’ ou ‘Espanha’, Moisés Teixeira da Silva, o ‘Tatuzão’, Ronaldo Pereira Costa e Márcio Geraldo Alves Ferreira, o ‘Buda’.
Em 12 de dezembro do ano passado, o Gaeco e a Polícia Federal, por meio da Força Tarefa de Combate ao Crime Organizado (Ficco/SP), foram às ruas na segunda fase da operação. No último dia 25, com apoio da Corregedoria da Polícia Civil, a força-tarefa novamente entrou em cena, desta vez na mira de policiais.
De acordo com a investigação, o grupo econômico ‘Love Funk’, cujo ramo de atuação é o agenciamento de artistas e a produção de shows de funk, ostenta faturamento milionário.
Segundo o Gaeco, Love Funk, ‘cujo ramo de atuação é o agenciamento de artistas e a produção de shows de funk’, é composto por empresas administradas por ‘Rato’ e Daniela.
Entre as diversas transações financeiras suspeitas realizadas pelo grupo, destaca a Promotoria, estão a movimentação de recursos superiores a sua capacidade financeira declarada/comprovada e movimentação de recursos vultosos nos anos de 2020 e 2021, ‘período no qual, muito embora se estivesse no auge da pandemia da covid-19, justificou-se tratar de bilheterias e vendas em shows’.
Os promotores de Justiça pedem à Justiça que determine reparação do dano moral coletivo, em valor não inferior a R$ 10 milhões, e decrete a perda em favor do Estado de São Paulo dos valores e bens, móveis e imóveis, dos denunciados e das pessoas jurídicas, bloqueados, apreendidos, arrestados e sequestrados na ação.
A cúpula da facção e os negócios na Paraíba
Ainda em outubro de 2024, o Estadão publicou uma outra matéria detalhando o alcance da facção na Paraíba, especificamente, em Cajazeiras.
De acordo com a reportagem, mensagens telefônicas entre Rato e Daniela mostram que a Love Funk pagou em março de 2023 os honorários dos advogados que trataram do preso Ronaldo Pereira Costa, que foi apanhado em 2021 pela PF em Florianópolis e transferido para Fortaleza. Filiado ao PCC, ele foi preso por ordem da 1.ª Vara de Aquiraz, no Ceará, sob a acusação de ter participado da execução de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e de Fabiano Alves de Souza, o Paca, dois líderes da facção que foram mortos em um acerto de contas em 2018.
Em 2022, Costa foi transferido para o sistema prisional federal porque estava planejando um motim no Ceará. Recentemente, Costa foi indiciado na Operação Match Point, da PF, que investigou o tráfico internacional de drogas a partir de Santa Catarina. Além de Rato patrocinar a defesa do preso, sua mulher é sócia da companheira de Costa em uma academia, a Central Performance.
Os negócios do casal se estenderiam até o Nordeste, que iriam da criação de gado de corte em uma fazenda em Cajazeiras, na Paraíba, a investimentos na compra de jogadores de futebol para um time de futebol da cidade. A FICCO encontrou provas da construção de benfeitorias de alto padrão em uma fazenda em Engenheiro Ávidos, distrito de Cajazeiras. E também mensagens sobre achegada do asfalto até a fazenda de Rato, algo que intrigou os investigadores.
Mais adiante, além desses diálogos em aplicativos de mensagens, os federais identificaram transações financeiras dos investigados, como o repasse de R$ 25 mil ao vereador Alysson de Sousa Lira (PP), conhecido como Neguin do Mondrian que, na época da publicação desta matéria, em outubro de 2024, foi identificado com sendo secretário de infraestrutura do município.
Mondrian é irmão de Gratuliano de Souza Lira, condenado a 11 anos de prisão por lavagem de dinheiro do PCC. Ele foi investigado na Operação Sharks, do Gaeco, que desarticulou um esquema que movimentou R$ 1 bilhão do tráfico de drogas da facção. Gratuliano atuava no Setor da FM, responsável pelo comércio de drogas da organização, e no Setor do Bob, que cuidava da venda de maconha. Também mantinha “imóveis alugados pela organização criminosa e que eram utilizados como ‘casas-cofre’”.
Em diálogos encontrados pelos federais, ressurgem aqui menções à disputa de Rato com o preso Buda a respeito da repartição de lucros dos negócios do grupo. Gratuliano diz em uma mensagem: “O negócio tá andando. Só não pode deixar que… amanhã ou depois o Buda falar que tem 20% ou 30% dos boi também, né mano? Aí é foda, né, mano?”
Ao todo, os policiais analisaram mais 6 mil mensagens entre os investigados. Em uma uma delas, de 19 de outubro de 2023, encontrada no celular de Rato, o empresário diz à mulher que o integrante do PCC investia em um artista. De acordo com a PF, Gratuliano seria outro sócio-oculto da Love Funk ou “menos investidor de algum dos artistas agenciados pela empresa, fazendo jus ao ‘repasse’ de parte nos lucros (obviamente, ‘por fora’)”.
Daniela também acabou fornecendo mais uma prova da relação do casal com Gratuliano ao publicar em sua conta no Instagram uma fotografia na fazenda na Paraíba em que o amigo aparecia ao fundo. Alertada por uma amiga, Daniela removeu a foto, mas os peritos da PF conseguiram recuperá-la.
Clique aqui e confira a íntegra da matéria publicada pelo Estadão com fotos.
Clique aqui e confira a íntegra da outra matéria publicada pelo Estadão com detalhes sobre o alcance da facção na Paraíba,