Há quem diga que os superpoderes pertencem apenas aos heróis dos quadrinhos. Mas quem já vestiu um uniforme suado, calçou um tênis surrado, ouviu o apito soar e sentiu o coração disparar antes de um desafio, sabe: o esporte também concede superpoderes. Não os que levantam carros ou voam entre prédios, mas os que constroem caráter, moldam personalidades e fortalecem os laços mais duradouros que alguém pode ter.
Falo não só como cronista, mas como alguém forjado por essa rotina. Dos meus primeiros treinos na juventude até os jogos e corridas que ainda hoje, aos 45 anos, encaro com prazer — ainda que de maneira amadora —, o esporte nunca deixou de me ensinar. Ele me deu mais do que condicionamento físico: deu resiliência, deu altivez, deu limites e deu asas. Aprendi a respeitar o adversário, a ouvir o treinador, a cair e levantar sem frescura. E o mais valioso: ganhei amigos que viraram irmãos, companheiros que atravessaram os anos e hoje dividem comigo, além de memórias, sonhos, projetos e até negócios.
A alegria que sinto ao calçar meu tênis e correr, remar na canoa havaiana, surfar ou simplesmente jogar uma pelada no fim de semana, não é nostalgia. É uma celebração contínua da vida que o esporte me deu. E agora, com uma emoção que só os pais podem entender, começo a viver esse ciclo de novo, pelos olhos da minha filha.
Júlia tem 8 anos. Começou agora no atletismo, lá na Vila Olímpica Parahyba (o bom e velho DEDE). A cada treino, cada alongamento, cada instrução do professor, cada competição que se aproxima — eu me vejo nela. Vejo minha própria história recomeçando com novas pernas, novo fôlego e um novo brilho no olhar. E em cada desafio que ela enfrenta, em cada vitória que comemora ou frustração que precisa digerir, me lembro: o esporte é um mestre silencioso. Ensina sem precisar falar. Forja sem prometer. Une sem exigir nada em troca.
É nos vestiários, nos pódios, nas derrotas difíceis, nas manhãs chuvosas de treino, que o atleta — ainda que pequeno — começa a entender o que é compromisso, resiliência, autoconhecimento e humildade. Numa sociedade que muitas vezes premia o imediatismo e esquece o valor do processo, o esporte segue na contramão: ele ensina a plantar antes de colher, a cair antes de aprender a voar.
Se me perguntarem de onde vem minha alegria de viver, minha vontade de continuar crescendo mesmo com o tempo já marcando seu ritmo no corpo, direi sem pestanejar: vem do esporte. E agora, ao ver minha filha dar seus primeiros passos nessa estrada, percebo que há um legado sendo passado. Um presente silencioso, mas valioso demais.
O esporte não é só atividade física. É rito de passagem. É escola da vida. É superpoder — daqueles que ninguém vê, mas todo mundo sente.
Parahyba, 10 de julho de 2025
Henrique Maroja
(Imagem: Freepik Rawpixel.com)