Estado se destaca no “Guia Mapa da Cachaça” com rótulos de até 48% de teor alcoólico
A Paraíba aparece com protagonismo no recém-lançado “Guia Mapa da Cachaça”, que avaliou 200 rótulos de todo o Brasil. O estado se destaca por preferir cachaças com os teores alcoólicos mais altos permitidos por lei — entre 46% e 48% —, revelando um perfil sensorial único e desafiando os padrões de consumo do restante do país.
Durante 15 anos, o pesquisador Felipe Jannuzzi percorreu o Brasil em busca das nuances da bebida que é patrimônio nacional. O resultado é o “Guia Mapa da Cachaça”, publicado pela editora Senac, que documenta a diversidade sensorial, histórica e legal da produção de cachaça em todos os estados brasileiros.
A Paraíba chamou atenção por sua preferência por rótulos mais fortes. “Na Paraíba, os rótulos mais potentes, entre 46% e 48% de teor alcoólico, o limite que a legislação permite, fazem mais sucesso”, afirma Jannuzzi. A legislação brasileira estabelece que a cachaça deve ter entre 38% e 48% de álcool por volume.
Essa característica regional contrasta com outros estados: no Rio Grande do Sul, por exemplo, o consumidor prefere o mínimo permitido (38%), enquanto em Paraty (RJ), o padrão fica entre 42% e 44%.
Técnica e tradição: como a Paraíba se insere no cenário nacional
O guia não apenas mapeia sabores, mas também avalia aspectos técnicos e legais. As cachaças que atingiram pelo menos 83 pontos em testes sensoriais foram submetidas a análises laboratoriais para garantir conformidade com as normas sanitárias e de produção.
Além do teor alcoólico, o estudo considerou fatores como:
- Tipo de cana-de-açúcar e clima local
- Leveduras utilizadas na fermentação
- Equipamentos de destilação (como panelas de cobre)
- Tipos de madeira dos barris de envelhecimento
- Sustentabilidade dos alambiques e identidade visual dos rótulos
Separando joio do trigo
A informalidade ainda marca parte do setor. A recente crise envolvendo bebidas adulteradas com metanol — que causou ao menos 15 mortes no país — acendeu um alerta. Embora a cachaça não tenha sido envolvida diretamente, o episódio reforçou a importância da fiscalização e da certificação.
“Foi uma coisa horrível, mas talvez uma luz de fim de túnel é que isso ajude a separar o joio do trigo”, pontua Jannuzzi.
Oportunidade para valorização e regulamentação
A pesquisa também revela um mercado em transição. Enquanto produtores tradicionais mantêm receitas seculares, novos empreendedores apostam em inovação, como o uso de barris de jerez, cerveja e uísque para envelhecimento.
Para Jannuzzi, o desafio está em elevar a percepção de valor da cachaça: “É o trabalho de melhorar a qualidade, e não só do líquido, mas também da embalagem e da comunicação da marca”. (Texto: redação Click100 / Imagem de capa: Freepik)
