Caso do padre de Areial ganha força com notas oficiais e novas denúncias na polícia

A polêmica envolvendo o padre Danilo César, da Paróquia de São José em Areial (PB), ganhou novos desdobramentos nesta semana. Após a repercussão nacional da homilia em que o sacerdote fez comentários considerados ofensivos à memória da artista Preta Gil e às religiões de matriz africana, dois novos boletins de ocorrência foram registrados — um em Puxinanã e outro em Campina Grande — e serão encaminhados para apuração conjunta, segundo a Polícia Civil.

De acordo com os delegados Danilo Orengo e Socorro Silva, o padre será ouvido no inquérito que investiga o caso. A fala, feita durante missa no último domingo (27/07), associou orixás a entidades malignas e ironizou a fé de Gilberto Gil, pai da artista falecida.

A Diocese de Campina Grande divulgou nota oficial afirmando que o sacerdote prestará esclarecimentos por meio de sua assessoria jurídica. O texto, assinado por Dom Dulcênio Fontes de Matos, reforça o compromisso da Igreja com a liberdade religiosa, a dignidade humana e o respeito à diversidade de crenças.

Já a Defensoria Pública da Paraíba, por meio do Núcleo de Direitos Humanos, publicou uma nota de repúdio contundente, classificando as declarações como ofensivas, discriminatórias e contrárias aos princípios constitucionais e cristãos. O documento destaca que o Brasil é um Estado laico e plural, e que todas as religiões merecem igual respeito e proteção.

“As falas reforçam estigmas, alimentam a intolerância e afrontam valores essenciais à convivência democrática”, diz o texto assinado pelo defensor público Marcel Joffily de Souza.

A repercussão também chegou às redes sociais. A chef e apresentadora Bela Gil, irmã de Preta Gil, reagiu com indignação: “É cada absurdo que a gente precisa ouvir… seu padre desrespeitoso.”

O historiador Leandro Karnal também se manifestou, criticando a lógica do sermão: “Quantos católicos ressuscitaram? Quantos papas saíram saltitando pela praça de São Pedro?” E concluiu com uma crítica moral incisiva: “De acordo com Mateus 25, o padre em questão é um sério candidato à condenação eterna por ser um homem cruel e preconceituoso.”

Leia também: Bela Gil e Karnal repudiam fala de padre da Paraíba que ironizou orixás e morte de Preta Gil

A estrutura jurídica e institucional do caso agora se soma à pressão pública e à mobilização nas redes. O episódio reacende o debate sobre intolerância religiosa, liberdade de expressão e os limites éticos da atuação pastoral em ambientes públicos.

Confira as notas:

Nota Diocese

Nota de Esclarecimento

A Diocese de Campina Grande, representada por seu Bispo Dom Dulcênio Fontes de Matos, informa que tomou conhecimento da pregação feita pelo Padre Danilo César, na Paróquia de São José, em Areial – PB, no último Domingo, 27 de julho, bem como da repercussão nas redes sociais e na imprensa.

O sacerdote, através da assessoria jurídica, irá prestar todos os esclarecimentos necessários aos órgãos competentes.

A Diocese reitera seu compromisso com os direitos constitucionais da liberdade de crença e de culto, da igualdade e não discriminação religiosa, do direito à honra e à imagem dos mortos e do princípio da dignidade da pessoa humana.

A Igreja Diocesana de Campina Grande reitera seu papel na sociedade, conforme o ordenamento jurídico brasileiro, cumprindo sua missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo.

Campina Grande, 30 de julho de 2025.
Assessoria jurídica e de comunicação da Diocese de Campina Grande.

Nota Defensoria Pública

NOTA DE REPÚDIO
O Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado da Paraíba, por meio de sua Coordenadoria de Direitos Humanos, Cidadania e Tutela Coletiva em Campina Grande, no exercício de sua missão constitucional de proteção e promoção dos direitos humanos, bem como na defesa de grupos sociais considerados minoritários, vem a público manifestar veemente repúdio às declarações proferidas por um sacerdote católico durante homilia realizada na cidade de Areial/PB, nas quais, ao comentar a morte da artista Preta Gil, fez afirmações ofensivas a religiões de matriz africana e à memória da falecida.

As falas, amplamente divulgadas, associam práticas religiosas afro-brasileiras a entidades malignas, ironizam a fé alheia e desqualificam tradições espirituais que fazem parte da história e da identidade cultural do Brasil. Tais declarações reforçam estigmas, alimentam a intolerância e afrontam valores essenciais à convivência democrática, especialmente em tempos nos quais a intolerância e o ódio afloram com perigosa intensidade em todo o mundo.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, assegura a liberdade de consciência e de crença (inciso VI) e veda qualquer forma de discriminação religiosa. O Brasil é um Estado laico, plural e democrático, no qual todas as religiões – assim como a opção de não professar nenhuma – merecem igual respeito e proteção.

Além de violar esses princípios constitucionais e tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil, as falas proferidas pelo sacerdote subvertem os próprios ensinamentos do Cristianismo, pouco importando que tenham sido proferidas em ambiente católico, o qual é aberto a todas as pessoas. O Evangelho prega o amor ao próximo, a misericórdia e a fraternidade universal. Ao proferir julgamentos depreciativos sobre a fé alheia e sobre a memória de uma pessoa falecida, a conduta adotada contradiz a mensagem cristã de acolhimento, respeito e diálogo inter-religioso, reiterada pela Igreja Católica, especialmente a partir do Concílio Vaticano II e dos apelos do Papa Francisco.

O Núcleo de Direitos Humanos reafirma seu compromisso inarredável com a promoção da tolerância, do respeito às diferenças e do combate a toda forma de discriminação religiosa, especialmente quando dirigidas contra grupos minoritários e historicamente vulnerabilizados.

Por fim, manifesta solidariedade à família de Preta Gil, à comunidade que professa religiões de matriz africana e a todas as pessoas que se sentiram atingidas pelas referidas declarações.

Campina Grande, 31 de julho de 2025.

Coordenadoria de Direitos Humanos, Cidadania e Ações Coletivas
Defensoria Pública do Estado da Paraíba

Marcel Joffily de Souza
Defensor Público

(Fonte: redação Click100 com Diocese, informações da Polícia e Defensoria Pública da Paraíba / Imagem: Pixatay)

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