Outro dia, um querido separou da mulher com quem teve dois filhos amados, um bom apartamento e uma convivência sob o mesmo teto por cerca de 20 anos.

Até aí tudo bem. Novidade zero. Até porque a gente já desconfiava que o relacionamento estava no limite porque a cada dez postagens no Instagram dele, 11 eram de declarações de amor ou frases motivacionais e isso, quando feito em excesso… não pode ser normal, mesmo.

Por fim, a nossa suspeita foi concretizada e rolou a separação. Agora a vida do ex-casal tem a seguinte dinâmica: filhos e bens divididos e, por parte dele, uma tentativa desesperada de mostrar para ela que superou o “término” e que está super bem com um novo “eterno” amor, fruto de um “relacionamento instagramável”.

Esse termo, foi a melhor das melhores traduções que o nosso grupo de amigos encontrou para definir a situação do querido que, por sua vez, passou a caprichar na escolha dos lugares onde leva a nova namorada que, assim como os ambientes frequentados, também é instagramável, ou seja, tem boa aparência para protagonizar belas fotos que passaram a enfeitar o feed dele, milimetricamente organizado para mostrar apenas fotos “descoladas” ao lado do novo “eterno” amor.

Isso seria lindo se aqui, na vida real fora das redes sociais, o cara não tivesse se tornado um chato. Um carente. Uma figura que, fracassadamente, tem tentado disfarçar o quão perdido ficou após o fim do casamento.

Sim… digo “fracassadamente” porque no feed a alegria é visível. Mas, fora do feed o tom de voz dele para com os mais próximos ganhou uma “nota” de desimpaciência que passou a incomodar, entristecer, aborrecer e afastar alguns. Tudo isso depois da separação.

Como gosto muito de me informar… vi que a Psicologia tem estudado bastante as causas e efeitos de certas postagens nas redes sociais e que passou a encarar alguns casos como tentativa de validação e aprovação dos outros para se sentir bem consigo mesmo e até como necessidade de manter uma imagem perfeita nas redes sociais apesar da vida ter virado um “barco das ilusões”.

Aqui, do meu cantinho, morro de pena da moça por ela ter entrado num relacionamento que é utilizado pelo cara como boia para fugir da realidade de não saber lidar com a rejeição ou o fracasso pelo fim do casamento que durou cerca de 20 anos.

O lado bom dessa história é que… testemunhar essa situação me faz renovar três certezas inabaláveis que -há muito!- acalento no meu íntimo:

1- O luto, seja ele qual for, tem que ser vivido até ser totalmente esgotado;

2- Cada pessoa tem um tempo próprio;

3- O tempo próprio que não é respeitado por preocupação com o que “os outros vão dizer ou pensar” leva, inevitavelmente, a um dia a dia de sofrimento e a uma existência rasa que empobrece todo tempo de passagem por este plano de vida.

Ao mesmo tempo em que digito essa coluna, torço… torço muito para que as pessoas desenvolvam coragem para lidar com questões pessoais ou emocionais mais profundas sem se importar com o que os outros vão pensar sobre o assunto.

Torço… torço muito para que as pessoas respeitem mais os próprios limites e a própria individualidade.

Torço… torço muito para que se amem mais e dependam cada vez menos da aprovação de outras pessoas que, por vezes, só viu pelas redes sociais.

(Imagem de Peggy und Marco Lachmann-Anke por Pixabay)

Topo