Três parentes foram aprovados para auditor fiscal; operação revela esquema nacional de trapaça
A Polícia Federal investiga um esquema de fraude em concursos públicos que teria beneficiado ao menos três membros de uma mesma família de Patos, no interior da Paraíba. Os suspeitos foram aprovados para o cargo de Auditor-Fiscal do Trabalho (AFT) no Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024, um dos mais concorridos do país, com salário inicial de R$ 22.921,71.
Segundo o relatório da PF, o grupo investigado cobrava até R$ 500 mil por candidato para garantir aprovação por meio de acesso antecipado a gabaritos, uso de ponto eletrônico e envio de redações prontas. A operação “Última Fase”, deflagrada na semana passada, resultou na prisão de três pessoas e no cumprimento de 12 mandados de busca e apreensão em três estados: Paraíba, Pernambuco e Alagoas. As informações checadas pela redação Click100 foram repercutidas pela Folha em uma matéria publicada nesta quarta-feira (08/10).
Como funcionava o esquema
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o esquema envolvia:
- Venda de gabaritos antes da aplicação das provas.
- Redações prontas com o tema exato da avaliação.
- Uso de documentos falsos para que terceiros realizassem as provas.
- Pagamentos em dinheiro, veículos e até peças de ouro.
A PF aponta o ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa como um dos líderes da organização. Ele, o irmão Antônio Limeira das Neves e a sobrinha Larissa Neves foram aprovados para o cargo de AFT. Larissa, que mora em São Paulo, realizou a prova em Patos e, segundo os investigadores, já tinha acesso às respostas antes do início do exame.
Mensagens encontradas no celular de Larissa indicam que ela recebeu o gabarito completo do turno da manhã às 8h — uma hora antes do início da prova — e as respostas do turno da tarde às 11h39. Ela também recebeu um texto pronto para a redação, cujo tema coincidia com o solicitado. “Grande para caramba”, respondeu ao ver o tamanho do conteúdo.
Conversas revelam pagamento e articulação
As mensagens entre Larissa e o pai, Antônio, revelam negociações para o pagamento de R$ 500 mil pelo gabarito. A PF identificou que o valor seria quitado com a venda de imóveis, peças de ouro e um veículo. Em outro trecho, Larissa demonstra desconhecimento sobre o curso de formação — etapa obrigatória para contratação — e pede ajuda ao pai para entender como funciona.
Antônio também aparece em conversas com Thyago José Andrade, outro investigado apontado como operador do esquema. Em uma das mensagens, Thyago promete repassar as respostas do curso de formação “no banheiro”. Há ainda registros de fraudes combinadas em outros concursos, como o da Polícia Federal, em que outra pessoa faria a prova no lugar de Antônio.
Outros envolvidos na Paraíba
Além da família Limeira, o relatório cita Valmir Limeira de Souza, outro irmão de Wanderlan, que também foi aprovado para AFT. Segundo a PF, ele não demonstrava qualquer conhecimento sobre o concurso e recebia todas as orientações diretamente de Wanderlan.
A investigação também inclui Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior, policial militar no Rio Grande do Norte e dono de uma clínica odontológica em Patos. Ele teria atuado como intermediário na venda de gabaritos. A Justiça Federal determinou busca e apreensão em seu endereço, mas a perícia não encontrou provas diretas de sua participação. Sua defesa afirma que as acusações são baseadas apenas em indícios.
Crimes e desdobramentos
Os investigados devem responder por:
- Fraude em concurso público.
- Participação em organização criminosa.
- Lavagem de dinheiro.
- Falsificação de documento público.
O Ministério da Gestão informou que está colaborando com a Justiça e aguarda os desdobramentos da operação para adotar medidas administrativas contra os envolvidos. Tanto a Folha como a redação Click100 deixa espaço aberto em suas respectivas editorias para manifestação dos acusados caso desejem comentar sobre o assunto.
Além do CNU, o grupo é suspeito de fraudes em concursos da Caixa Econômica Federal, polícias civis, Polícia Federal e até no exame da OAB. (Texto: redação Click100 / Imagem de capa: Freepik Jannoon028)